top of page
  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton

Atualizado: 3 de mai. de 2023

Gielton



ree




Tem gente cujo desejo é tão forte que até faz parar de chover. Eu conheço!


Difícil mesmo, muitas vezes, é saber o que se quer. É que, queremos mais de uma coisa ou queremos e não queremos a mesma coisa ao mesmo tempo. Complexo isso, não é?


Amar então, é possível amar duas ou mais pessoas simultaneamente? Não digo sobre tesão, desejo ou sexo. Falo de cumplicidade, trilho e desafios a dois. Tenho minha resposta na ponta da língua. Doce como arroz doce.


Lucidez e discernimento ajudam, mas nem sempre temos a mente límpida e clara para identificar. É comum estarmos enfumaçados, em meio à confusão mental, como em uma serração onde não se avista além de um palmo diante do nariz. Cuidado, o precipício pode estar bem adiante!


Esses dias irrompeu uma oportunidade. Aí você pensa: que bom, tem que aproveitar, agarrar e não deixar escapar esse presente do destino.


Porém, como tudo na vida, a chance pintada de boa, traz prejuízos. Nem tudo são flores, há espinhos nos talos.


Por um lado queria. Experiência promissora. Novo desafio. Certamente agregaria aprendizados e evoluções. Sinto prazer quando instigado!


Meu outro lado arrazoava. Isso vai bagunçar a sua vida. Retirar seu sossego. Afastá-lo dos cuidados com a terra, as plantas, os netos. Ocupar espaços dedicados ao seu eu.


Acho que, no fundo no fundo, sabia o que queria. No entanto, havia uma pressão de dentro para fora e de fora para dentro. Algo "inidentificável"! Apenas um sentimento solto em um turbilhão, como uma pequena folha seca desarvorada em um vendaval. Uma intuição nas palavras alheias e um aperto no coração.


Aí, a pressão arterial elevou-se. É o coração clamando por cuidados. O cardiologista ofereceu-lhe uma dose extra de Losartana. Mais calmo, ele se recupera de mais um pequeno desencontro entre a alma e a lógica.


Assim, a vida. Certezas duvidosas são sombras do desalento.


Imagem do post em <https://pin.it/7Go2KL9>


 

Atualizado: 3 de mai. de 2023


ree



Pessoas são pessoas. Indivíduos que respiram. Pensam. Agem. São e estão!


Alguém aí já parou para pensar no mundaréu de gente que vive em nosso planeta? Quando me deparo com essa cifra desarvoro. É gente que não acaba mais. Andar pelas ruas do centro traz essa sensação de ilimitado. Exaure! Gera uma espécie de cansaço. Um excesso de energia. Um esgotamento. Cada pensamento é uma onda que emana em todas as direções. Captamos muitas. Algumas indesejadas.


Mas, quando a multidão se reúne por uma causa justa... Aí, é outra coisa! Lá de cima, do alto mesmo, acima dos helicópteros, perto das nuvens, vê-se luzinhas brilhando no asfalto. Afinal, "gente é para brilhar, não para morrer de fome". Somos luzes. Cada qual com sua cor, com sua frequência. Uns mais amarelados, outros vermelhos intensos, lilases, azuis... Cada qual com suas preferências, suas crenças ou incredulidades. Seus anseios e demandas. Necessidades e traumas...


Não importa. Há vida aí dentro. Desejo e paixão. Raiva e indignação. Há humanidade. É por essas e por outras que, vez ou outra, nos juntamos. Dessa vez, impelidos por mais de 500.000 mortes fomos às ruas protestar!


Todos mascarados. Olhares atentos. Sobre corpos, dizeres. Palavras de ordem. Muitos, conhecedores dos seus limites e poderes. Fizemos a nossa parte. Alertando, clamando, bradando um grito ainda contido na boca tapada.


Alimento para a esperança. Sopa para aquecer o frio e derreter o gelo dos que, envoltos em uma rede de pertencimento, insistem em negar a vida. Permanecem no escuro da caverna onde o Sol clareia a entrada logo adiante.


Precisamos de gente. Muita gente para romper esse estado entorpecido em que navegamos. Estado de ódio pelos amores alheios. Estado de indiferença à dor que dói no irmão do lado. Estado de obscurantismo, de vista guiada e cérebro lavado.


Ainda bem que já somos muitos. Mostramos isso quando juntos caminhamos de olhos dados pelas avenidas. Cansaço? Não! Esperança!


Assim, a vida! Lutar...


 
  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton

Atualizado: 17 de mai. de 2023

Em homenagem ao meu filho Davi Santos Lima


Gielton



ree



Desciam os dois, motorista e passageiro, a Paulo Afonso. No cruzamento avistaram, em rua pouco iluminada sobre sua bicicleta, um jovem. Recostado ao tronco de uma árvore frondosa, o jovem permanecia na mesma posição. No entanto, havia movimentos. Gestos lentos, braços abertos, palavras inaudíveis e um olhar indefinido.


Nesse relance se entreolharam. O motorista disse:


— Olha ali? O que ele está fazendo?


— Sei lá, porra!


— Deve estar doidão. Certamente tem drogas...


— Que nada. É branquinho classe média. Deixa pra lá.


— Não, não... Vamos abordá-lo.


— Que isso, ficou louco? Vai acabar dando problemas. E se for filho de juiz?


Pararam a viatura na dobra da esquina. Alguns minutos depois, pelo retrovisor, o motorista avista o jovem ciclista. Usava dreads naturais e loiros. Era alto e magro. Esbelto. Aparentava uns vinte e poucos anos. A pequena mochila dependurada sobre os ombros poderia... quem sabe... Descia a Paulo Afonso distraído meio que no mundo da Lua, aparentemente desconectado.


A poucos metros abriu repentinamente a porta do automóvel e, quase interrompendo a passagem do jovem, o motorista interpelou-o energicamente.


— Parado. Desça da bike. Mãos para cima.


No susto, o jovem acatou as ordens.


— Na parede. Encoste na parede mantendo as mãos no alto. Abra as pernas.


Por detrás revistou-o, passando brutalmente suas mãos pelo dorso, entre as pernas, até alcançar a panturrilha. Enquanto isso, o outro, com os olhos, filmava seu perfil.


— Tire as drogas de dentro da mochila.


Com calma, o jovem respondeu.


— Não tenho droga, seu guarda.


— Abra a mochila.


Uma garrafinha foi o primeiro objeto a pular da bolsa.


— Que bebida é essa? Cachaça?


— Não, seu guarda. É água.


— Deixa ver.


Abruptamente retirou da mão do jovem. Abriu. Cheirou. Sem odores suspeitos descartou sobre a calçada.


Uma pasta vermelha, dessas de elástico nas pontas, foi retirada e aberta.


— Que códigos são esses?


— Partituras.


— Para que servem?


— A gente lê e toca a música.


— Como se lê isso? Ah, deixa pra lá.


Bolinhas brancas miúdas dentro de um vidrinho escuro foram alcançadas.


— O que é isso? Que droga é essa?


— Não, seu guarda. Isso é remédio homeopático.


O outro diz:


— É para stress. Minha mulher usa.


O jovem completa.


— Exato, serve para stress também. Mas, nesse caso...


Foi interrompido pelo motorista que, agora em tom raivoso, pronunciou.


— E a droga? Onde está?


— Não tenho droga, seu guarda.


— Quer dizer então que não está doidão? Porque conversava com a árvore ali em cima?


— Eu, conversando com a árvore?


— Isso mesmo, vi com meus próprios olhos, quase agarrado ao tronco daquela árvore na esquina.


— Não, seu guarda, eu estava me despedindo da minha namorada na janela do primeiro andar.


Assim, a vida! Salvo pela cor da pele.


Imagem do post em <https://pin.it/3vDX73P>

 

Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

  • Ícone de App de Facebook
  • YouTube clássico
  • SoundCloud clássico
bottom of page