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Atualizado: 4 de ago.

Gielton


pena de escrever sobre o caderno



Diário: conversa silenciosa com os próprios pensamentos — chave de acesso aos dizeres da alma, nem sempre com tradução simultânea.


Foi dele, do simples gesto de colocar o celular entre os dedos e teclar desvairadamente, dia após dia, em lampejos cotidianos, que a escrita acomodou-se em minha morada.


Quando isso acontece, não tem mais "escapatória" — o vício instala-se como trepadeira em muro esquecido.


Mais do que subliminar,

mais do que entrelinhas.

À beira do inevitável,

só nos resta aceitar.


O pior, ou o melhor, é quando passado o tempo, as letras se acomodam como abóboras na carroça e, no balanço, exalam para dentro de outros corações.


Quando isso acontece é pura conexão.


Mais do que sentido,

mais do que força,

mais do que laço.


Assim, as ESCRIVÊNCIAS vieram ao mundo.



 

Gielton



Escritora




Entre namoro e noivado, foram mais de cinco anos. Casal admirado que "esperançava" a vida dos outros como espelho de sonhos pessoais. Tudo corria segundo o figurino. A vida no interior do sertão mineiro a esperava: dona de casa, filhos, família...


Só que a ânsia por outros mundos revirou o prognóstico. Ah, por que as mulheres precisam estudar? Viu? Nisso que dá!


Foi a conta de pisar no chão da universidade e um mundo de caminhos se abrir. Também, foi mexer com teatro! Onde já se viu? Um antro de perdição!


Seu décimo sentido projetava longe, longe outras perspectivas. Ainda nebulosas, mas magnéticas como forças ocultas, a impeliram para um lugar conhecido, apesar de incerto: a metrópole.


A mente consciente da pequenez da trilha demarcada naqueles cafundós, o desejo pulsante pelo fervor do mundo, os sonhos projetados e certa liberdade intrínseca não deixaram dúvida: largou o noivo, embasbacado, à beira do altar.


No lugarejo, o espanto abriu espaço para devaneios. A mesquinharia levou a jovem de família para o puteiro. Afinal, atriz e prostituta são uma coisa só. Escolheu a vida fácil, diziam línguas venenosas.


Que nada, seu palco foi a sala de aula. Seu público, estudantes encantados. Atuou com maestria entre carteiras e pessoas. Estudou e pesquisou movimentos sociais. Aprofundou os entendimentos e abriu portas para a compreensão de si e do outro.


Aposentou-se.


As lembranças da infância, os afetos cultivados e a terra plantada a trouxeram de volta. Hoje, em sua casa, o quintal e o jardim, cuidados com mãos de escritora que agarra o lápis e solta ideias, floresce.


Recentemente reencontrou Afonso, o ex-noivo. Enlaçou outra noiva e, como no figurino, germinaram três crias. Estavam à beira do rio. Parentes presentes entre copos de cerveja e tira-gostos, instigaram tal encontro. Ele apresentou lembranças vivas e marcantes daquele tempo: recitou em público versos escritos ao punho dela. Sorriu afetuosamente, enquanto ela, espantada, nem se lembrava de suas próprias palavras.


O WhatsApp da moça tocou cedo no dia seguinte. Foi delicado, sensível e amável. Propôs um encontro para abrir o baú de guardados.


Deveria ela aceitar o convite?


Assim, a vida! Esperando o inesperado.

 
  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton

Atualizado: 17 de fev.

Gielton







Àquela hora, o sol morno nos chamou para um passeio à beira-mar sem protetor solar, boné e óculos escuros. Assim é bom: livre e solto.


No caminho de vinda, perto de Emboaca, muitas piscininhas se formaram na praia, bem na borda da estrada. Que decisão feliz, rever este local com a calma que ele merece!


Estivemos, os dois, conectados entre nós e através de cada um. Juntos e separados. Embelezados pela natureza exuberante, cada qual sentiu em si a energia do instante e resvalou no outro a alma encantada. Os estados se somaram.


A tarde caía suave e plena. Dona de si, abraçava quem se deixasse abraçar. Era só estar. Nada mais. A linha da conexão voou longe. Conchinhas foram o elo entre, ela, a avó, e seus netos. Um presente catado um a um. Cada peça escolhida com o desejo pelo outro.


O Sol esbanjava sua força enquanto enfraquecia sua luz. Nem sempre o mais intenso é o mais forte, pois o estado faz a arte, e arte não se mede em potência. A belezura preenche. Não há o que fazer, além de sentir.


Nos curvamos diante do espaço e tempo. A demora não perguntou quanto tempo falta. O relógio, muito menos, não respondeu. Não era preciso, bastava deixar vir. A intuição conduziu, sem erros, a hora do adeus, quando já quase escurecia.


Assim, a vida! Felicidade se mede em instantes.

 

Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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