AFETANDO-NOS
- Gielton
- 20 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
Gielton

Às vezes a vida nos toma e os espaços de tempo ficam totalmente preenchidos, como um copo d'água prestes a transbordar depois da próxima gota. Parece até que a Terra gira mais rápido. Alguns dizem que o tempo é psicológico. Outros, que o tempo é priorização. Seja o que for, de vez em quando ele sai do eixo e muda seu ritmo.
Estou assim há alguns dias. Sem tempo para nada. Mas como assim? Tenho feito tantas coisas, atendido tantas demandas! Porque essa sensação de atolamento?
Ah, sim, os prazeres clamam por si. Entre eles, a vontade de escrever. Mas, para onde foram as ideias? Mesmo que os polegares queiram frenetizar no teclado do celular, não há espaço no dia. A vida anda tomada, conectada a uma de 330 volts. A eletricidade flui pelo corpo e acelera os pensamentos. Dá até um "tesãozinho" esse modo de neurônios neurados. Outro dia, nem banho tomei. De acompanhante no hospital caí direto no trabalho e vice-versa.
Em meio a esse desalinho eis que surge uma festa de amigos de velhos tempos. Mesmo nesse corre-corre alucinado, optamos pelo encontro. Internamente algo dizia: é necessário.
A recepção foi mais do que afetuosa!
- Quanta honra! Até que enfim vieram à nossa casa.
Nós dois, numa falta de graça danada, respondemos.
- Que isso, nós quem agradecemos ao convite. Viemos prestigiar seu niver.
O quintal de terra estava lindo. Uma jabuticabeira dava vista aos olhos de seus frutos ainda por vir. A fogueira, ao fundo, aquecia, de longe, a noite fria. À mesa, pés de moleque, canudinhos e cocadas coloriam com gosto de infância.
- E o neto? Como vai?
- Bonitinho toda vida. Nem é bom comentar, senão vamos destrambelhar a falar.
- E as ESCRIVÊNCIAS? Nossa, seu último texto foi espetacular. Você não tem noção do quanto toca as pessoas. O alcance das suas palavras parece sem medida.
Ai meu Deus. Será? Como assim? Os comentários do Facebook são indicativos, mas, nem tanto. Devagar com o andor!!!
Outra grande amiga do tempo das antigas se aproxima:
- Estou adorando as ESCRIVÊNCIAS. Gosto de ler. Sinto paz e calma, além das reflexões profundas sobre a vida. Espero pelo livro, hein!
Nessa hora ele inflou. Tive que cuidar para não subir ar adentro com perigo de estourar o ego e esborrachar no chão. Brotou aquele sorrisinho sem graça para disfarçar. Enfiei a mão no bolso e desviei a atenção.
Ficamos por ali tempo suficiente para acalmar a agitação interna. Escolhemos um canto para sentar e deixarmos a vida fluir, leve, fácil, sem esforço. Entre deliciosos caldos, confortáveis ao estômago, passaram histórias do Monte Everest, recém-visitado por um dos amigos. Impactante! O filho da aniversariante, já crescido, nos foi reapresentado em um vídeo debulhando uma sanfona. Lindo!
Com o ego acalmado foi possível pensar com mais clareza. Que mal existe em tocar as pessoas? Qual o problema em receber elogios? Isso é ser vaidoso? Podemos cultivar a vaidade?
Porque não? Afinal viemos ao mundo para nos sensibilizarmos mutuamente. Trocarmos nossas energias. Transitarmos entre as consciências. Se nossa verdade transmite boas coisas, que mal há?
Ah, sim, a arrogância anda perto, caminha do lado. Facinho pular a interface para o lado de lá. Dela, sim, é bom cuidar. Deixar o "fodismo" quieto em seu canto e seguir.
Voltei outro para casa, afetado pelo afeto das amizades. Algo de eixo reencaixando e deixando mais lento o oscilar do pêndulo no tic tac cotidiano.
Assim, a vida. Até consegui mover de novo os polegares! Obrigado amigos.
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