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AMORES PLATÔNICOS

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 10 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 28 de ago. de 2018

Gielton

Minha infância foi repleta de amores platônicos, daqueles de ficar bobo, pensando na mulher amada, na menina amada.

Ainda criança, adorava entrar na Kombi do meu pai, na garagem mesmo, para ouvir rádio. Na época, com uns 10 anos, curtia a Atalaia, que tinha preferência por “músicas de fossa”. Ficava ali, por horas a fio, ouvindo Agnaldo Timóteo, Paulo Sérgio, Márcio Greyck, entre outros. Emocionava-me com as letras, bregas até, que falavam de amor.

Minha primeira grande paixão foi a Soraia, coleguinha de sala. Cursava a quarta série primária, como se dizia na época. Tinha verdadeira adoração por ela. Um amor infantil, inocente, sem grandes pretensões. Só sei que gostava de ficar ao seu lado, brincar com ela e até dançar, quando, no final do ano, fizemos uma "hora dançante" dentro da sala de aula. Foi um momento mágico para o meu coração.

Era julho. Estávamos de férias. Eu, desolado, pois passaria um mês sem ver a Soraia. Mesmo podendo brincar na rua, andar de carrinho de rolimã o dia todo, jogar bola no campinho todos os dias, fora o tanto de outras brincadeiras com os vizinhos, ficava amuado sempre que me lembrava da Soraia.


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A tristeza se aprofundou quando viajamos para Nova Almeida, uma cidade pertinho de Vitória, no Espírito Santo. Provavelmente uma das nossas primeiras viagens para a praia. A Kombi deve ter gastado umas 20 horas, das quais passei, pelo menos 15, olhando a janela. Triste, triste e triste. Amargurado, com tamanha dor no coração. O pensamento, quase todo o tempo, na Soraia. Nem sei se ela sabia o quanto gostava dela... Mas eu gostava, e muito...

A casa alugada em que ficamos era simples, em uma área de periferia, de ruas de terra batida, a uns quatro quarteirões da praia. Tudo que uma criança de 10 anos poderia querer de suas férias, mas minha tristeza pela falta da Soraia era maior que tudo...

No dia seguinte, saímos a pé para conhecer o mar. Andávamos todos pelas ruelas do bairro quando, de repente, quem eu vejo? Não acreditei, não devia ser verdade. Aquilo era um sonho? Não. Era Soraia e sua família. Estavam em uma casa distante uns dois quarteirões da nossa. Foi alegria sem medida. Enturmamos todos. Meus irmãos com os dela. Foram as melhores férias da minha vida!

Não me recordo de ter lhe dado um beijo sequer. Brincamos muito, de tudo: bola, queimada, correr, nadar... Como era bom estar perto dela! Foram quinze dias de puro êxtase, de alegria incontida, de vontade de brincar mais e mais e mais... Lembro-me da volta, dentro da Kombi, olhando a paisagem pela janela, em estado de contemplação. Uma alegria interna indescritível e inacreditável...

Soraia foi a primeira, dos inúmeros amores platônicos que tive até a adolescência. Assim como a água do mar invade a areia da praia, cada novo encantamento penetrava espaços vazios em meu coração. De fascínio em fascínio - por um simples sorriso ao longe, pela pureza de um semblante no meio da multidão, por um jeito de andar, ou qualquer detalhe que despertasse atenção - trocava a mulher amada, a menina amada.

Fui, do misterioso amor à distância, ao encontro, tangível e único, na juventude, de um amor com cheiro e sabor de perenidade. Hoje, já avós, prosseguimos na infinda construção, difícil à beça, de amar a dois. Que sorte a minha!

Revisão: Maria Lucia Pompein Pessoa


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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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