SENTIR
- Gielton
- 29 de nov. de 2023
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Gielton

Foi uma tarde triste. Era uma dor que nunca havia sentido. Como se tivessem arrancado algo do meu âmago, a que me pertencia. Queria chorar. Não consegui. Aspirei as lágrimas para dentro do globo ocular e balancei a cabeça para espalharem. Quem sabe assim, secam mais rapidamente e dissolvem meu sofrimento.
Não queria acreditar. Disfarçava como se não fosse verdade. Era ainda muito jovem para perder um dente e sair com esse enorme orifício na gengiva. Porque diabos meus ossos foram corroídos a esse ponto? Como as bactérias cavaram um buraco tão grande na raiz? Sem sustentação, qualquer coisa cai.
Saí do consultório com um dos molares embrulhado em um guardanapo dentro do bolso de moedas da calça jeans. Para quê? Recordação? Que "merda" de lembrança seria essa?
Deixa de ser imbecil e vai viver.
Vivi. Muitos outros se foram nesses longos anos. Habituei à falta, mas a tristeza atualizou a cada um arrancado ao alicate. Não os embrulhava mais no lenço de papel. Por alguns chorei lágrimas face abaixo. Por outros, engoli o desgosto.
Estou prestes a morder de novo! Passo a língua e sinto os pinos de metal boca adentro. Enxertaram osso de boi na cavidade desossada e, com uma broca, cravaram pares de bucha e parafuso de titânio na nova estrutura. Um monte! Minha arcada está agora definitivamente implantada.
Os pré e pós molares já foram moldados e na próxima semana tiro a prova.
Ainda não sei o que sinto.
Assim, a vida! Segue em espiral.
<Imagem gerada por Inteligência Artificial>
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