EIXO
- Gielton

- 5 de mai. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 6 de nov.
Gielton

Você já sentiu seu eixo se inclinar… já se perguntou o porquê?
Gosto de pensar em eixos. Eixos do pensamento que, como um fio, me conduzem a dimensões distantes, a ideias preenchidas em um todo simultâneo.
A Terra, por exemplo, possui um eixo imaginário, é claro, como aprendi com os professores de Geografia, lá pela quinta série. Mas, para que esse eixo? Relaciona-se à sua rotação, ao seu equilíbrio? Afinal, a Terra precisa se manter estável em torno de si. Firme em seu trajeto rodeando o Sol para que a vida transcorra em sua superfície.
Medito sobre meu eixo, imaginário, é lógico. Visualizo-o vertical, iniciando no centro da cabeça, descendo pelo tórax até tocar o sexo. Acompanha meus movimentos, segue comigo onde quer que eu vá. Interage com outros eixos que se afetam mutuamente. Eu que o estabilizo ou ele que não me deixa tombar? Sei lá, talvez um pouco de cada!
Por estímulos banais ele arreda de lado e inclina-se. Pode ser uma frase mal dita, um pedido não atendido, o leve tocar feridas em cicatrização, um sonho, aquele repentino café quente queimando a língua, um tropicão na pedra da trilha... As emoções pesam exageradamente sobre a balança descalibrada. Sei apenas que só percebo tempos depois.
Com o veio pendente e bambo como uma fina corda pendurada, desestabilizo-me. Faço das pequenas coisas armadilhas da alma que, ingenuamente, se deixa capturar como uma presa. Tolhido, o ser interior se contorce e esperneia como um besouro de costas no chão. Entra em transe, em recorrências, gira atordoadamente sobre si mesmo. A gangorra vai e volta enquanto a consciência se transfigura pelo caminho.
Uma noite bem dormida, uma película amorosa, um devaneio, aquele jazz bem executado, seu time de futebol triunfando, sua mulher lhe acarinhando, podem aprumá-lo. O centro se restabelece. Liberta a alma das amarguras de outrora. O outono de folhas secas transmuta-se em primavera florida.
Aí sim, resgato minha essência. Reconheço-me. Encontro o amor dentro do peito e a paz no canto dos pássaros e na fina chuva do entardecer. Uma leve sensação de plenitude me habita.
Esses dias, uma cachoeira me deixou assim, como a Terra que gira suavemente sobre si mesma sem tontear. Deixei a ducha gelada leve como uma pluma, quase sem gravidade, volteando em harmonia com nosso planeta. Enquanto o Sol incidia luz e calor sobre a rocha, meu corpo nu se aquecia.
Assim, a vida. Na corda bamba de um eixo que bamboleia.
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