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FRESCOBOL

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 27 de mai. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 31 de mai. de 2023

Gielton








Adotamos o frescobol há muitos anos. Éramos jovens ainda. Foi entrando de mansinho em nossas viagens de férias.

Um companheiro e tanto! Tão amigo, que o agraciamos em uma de nossas canções: "Jogar só tênis é perder no frescobol".


Não deixamos a mocidade para trás. Ela está agora um pouco amadurecida. O que vale é o espírito da coisa! Sentimo-nos jovens no modo de jogar com o humano.


O ritual começa com a disponibilidade.


— Vamos bater uma bolinha?


Entre essa escolha e a bolinha levantar voo, há alguma demora. É necessário prender seu cabelo, espalhar protetor sobre a pele, limpar os óculos... Afinal, a visão límpida facilita a brincadeira. Enxergar os detalhes e o todo nos coloca a postos para os desafios.


Normalmente entre o Sol, a areia plana e o mar ao fundo iniciamos nossa peleja. Pernas levemente flexionadas, postura de atleta e fluidez. Afinal, esse jogo é puro deleite. Quem nos dera levar a existência como um jogo suave com menos amarras aos medos.


Somos competitivos sim, às vezes, mas no frescobol encontramos uma bonita parceria. Lançar a bola para a companheira na altura certa e na posição confortável é como acertar o passo na vida. É como andar lado a lado no trilho da existência.


A vida precisa de graça, de cor vibrante. Quando mornamos a relação, o banho maria cozinha lentamente as angústias. É bom colocar emoção. Ficar no pingue pongue lento e sem graça colore a partida em tom de cinza desbotado. De vez em quando é bom colocar força, raquetar com tesão. Tornar a pegada difícil, mas possível. Um desafio aos dois, tanto para quem corta quanto para o que apara.


Eventualmente descalibramos a medida. Vai forte demais em direção ao tórax que, sem tempo para desviar, apenas se protege da bolada bem intencionada. Ela costuma bater no peito, sem dores. Ainda bem! O coração amortecido segue seu ritmo em batidas!


Se vem muito baixa o esforço para salvá-la e mantê-la viva, pelo menos, até o próximo toque, é compensado pelo prazer de ver a gorduchinha ainda voando pelos ares. Alternamos os acolhimentos dos passes truncados de cada um.


Outras vezes voa alto. Inalcançável! Deixamos a bola do sonho, como diz Rubem Alves, ultrapassar seu limite. Não há problema. Em passos lentos de férias, sem tempo para a demora, é possível recuperar a redonda e recomeçar de um novo ponto.


Ambos irradiam esperança a cada bola salva, a cada desavença compreendida. Nos damos as mãos para seguirmos juntos apesar dos percalços.


Permitimos errar. Rimos quando a pelota ricocheteia na beirada da raquete e mergulha na água. As ondas a trazem de volta, boiando. Sem pressa recomeçamos a lida cotidiana da intimidade.


Mas aos poucos a perna fraqueja, os músculos do antebraço perdem força, a bola escapa facilmente para os lados. A flexibilidade para corrigir os lançamentos tortos esgota-se. Então, mesmo que segundos antes a emoção tenha movido o desejo do encontro, é hora de parar. Dar um tempo para reiniciar a trama do fio da vida com nova dosagem.


Lucidamente trocamos o jogo pela liquidez da água do mar que nos tira da terra e coloca nossos sonhos a flutuar.


Assim, a vida. O que vale é jogar!


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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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