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FRESCOBOL

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 27 de mai. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 19 de nov.

Gielton



Casal na praia



Amar não é dádiva, é labor…


Adotamos o frescobol há muitos anos. Éramos jovens ainda. Foi entrando de mansinho em nossas viagens de férias. Um companheiro e tanto! Tão amigo, que o agraciamos em uma de nossas canções: "Jogar só tênis é perder no frescobol".


Passados alguns bons carnavais, a mocidade se renovou. Ela está agora um pouco amadurecida. O que vale é o espírito da coisa! Sentimo-nos jovens no modo de jogar com o humano.


O ritual começa com a disponibilidade.


— Vamos bater uma bolinha?


Entre essa escolha e a bolinha levantar voo, há alguma demora. É necessário prender seu cabelo, espalhar protetor sobre sua pele, limpar seus óculos... Afinal, a visão límpida facilita a brincadeira. Enxergar os detalhes e o todo nos colocam a postos para os desafios.


Normalmente entre o Sol, a areia plana e o mar ao fundo iniciamos nossa peleja. Pernas levemente flexionadas, postura de atleta e fluidez. Afinal, esse jogo é puro deleite. Quem nos dera levar a existência como um jogo suave, com menos amarras aos medos.


Somos competitivos, sim, às vezes, mas no frescobol encontramos uma bonita parceria. Lançar a bola para a companheira na altura certa e na posição confortável é como acertar o passo na vida. É como andar lado a lado no trilho da existência.


A vida precisa de graça, de cor vibrante. Quando mornamos a relação, o banho-maria cozinha lentamente as angústias. É bom colocar emoção. Ficar no pingue-pongue lento e sem graça colore a partida em tom de cinza desbotado. De vez em quando, faz bem colocar força e raquetear com tesão. Tornar a pegada difícil, mas possível. Um desafio aos dois, tanto para quem corta quanto para aquele que apara.


Eventualmente, descalibramos a mão. Vai forte demais em direção ao tórax que, sem tempo para desviar, apenas se protege da bolada bem-intencionada. Bate no peito, sem dores. Só aquele susto bom.Ainda bem! O coração amortecido e firme reencontra seu ritmo.


Se vem muito baixa, o esforço para salvá-la e mantê-la viva, pelo menos, até o próximo toque, é compensado pelo prazer de ver a gorduchinha ainda voando pelos ares. Alternamos, acolhendo os passes truncados de cada um.


Outras vezes voa alto. Inalcançável! Deixamos a bola do sonho, como diz Rubem Alves, ultrapassar seu limite. Não há problema. Em passos lentos, sem tempo para a demora, é possível recuperar a redonda e recomeçar de um novo ponto.


Ambos irradiam esperança a cada bola salva, a cada desavença compreendida. Damos as mãos para seguirmos juntos, apesar dos percalços.


Permitimos errar. Rimos quando a pelota ricocheteia na beirada da raquete e mergulha na água. As ondas a trazem de volta, boiando. Sem pressa, recomeçamos a lida cotidiana da intimidade.


Mas, aos poucos, as pernas fraquejam, os músculos do antebraço perdem força, a bola escapa facilmente para os lados. A flexibilidade para corrigir os lançamentos tortos se esgota. Então, mesmo que segundos antes a emoção tenha movido o desejo do encontro, é hora de parar. Dar tempo para reiniciar a trama do fio da vida com novo fôlego.


Lucidamente, trocamos o jogo pela liquidez da água do mar, que nos tira da terra e coloca nossos sonhos a flutuar.


Assim, a vida! Um jogo com ritmo, pausa e retomada.

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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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