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MORRO DOS VEADOS

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 21 de jul. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 3 de mai. de 2023

Gielton





Estávamos apaixonados apesar do pouco tempo de namoro. No entanto, já nos conhecíamos há uns bons meses. Ah, uma longa história!


Sabe aquela amizade que vira namoro? Era o nosso caso! Eu, feliz como um pássaro pela manhã "pirulitando" de galho em galho. Cantando como para encantar a fêmea e se mostrar possuidor das melhores virtudes, topava tudo. Até a deixava retirar cravos em minha face. Ela, de olhar para frente, cultivadora do encontro, construtora fiel do amor, amassadora do barro da esperança, sugeriu nosso primeiro acampamento.


Atirada aquela mulher. Obediente aquele homem. Mal sabíamos o caminho... Uma tal "Serra da Moeda". Ali. Pertinho de mineiro. Algumas poucas léguas do centro da cidade.


A sacola, dessas grandes, tipo enormes, de plástico listrado em tons de azul e fechecler, foi abarrotada. Levamos, imagine só, um saco de cinco quilos de arroz! Haja inexperiência!


Viagem curta. Da janela do ônibus, abraçadinhos como gato e gata, apreciamos as curvas em forma de serpentes, das montanhas de minerais em terra vermelha e horizontes infindáveis.


— Por favor...


Ela interpelou o primeiro transeunte logo no desembarque e continuou...


— Você sabe a direção do Morro dos Veados?


O sujeito virou-se. Mesmo com a luz do Sol ofuscando nossas vistas, apontou para um lado da serra e completou.


— Peguem aquela estradinha, subam até o primeiro mata-burro e verão um descampado. Entrem nele, passem pelo campinho e sigam a trilha. Logo depois é o mirante.


Pensei, vai ser foda. E foi! Duas mochilas pesadíssimas às costas, uma barraca para cinco pessoas pendurada em um ombro, uma sacola de plástico repleta de enlatados, sacos de feijão, arroz e o "diabo"... A subida do morro foi exaustiva. Éramos jovens, mas o preparo físico... E para achar o tal Morro dos Veados... Pergunta daqui, vai para lá, volta na estrada, entra na trilha errada!


Finalmente alcançamos! O entardecer já se manifestava quando escolhemos um pequeno platô sobre a grama para armarmos nossa barraca. Nem sei como ficou de pé. Os piquetes mal penetravam a terra mineralizada.


Pronto! Depois daquele sufoco nos deitamos para curtir a aventura. A vela sobre a caixa de fósforo ao canto trazia alento. Como duas colheres, nos encaixamos e, fatigados, adormecemos.


Em plena madrugada, incêndio! Acordamos esbaforidos com a chama tomando o "sleeping bag". Em um ato de puro reflexo saímos da barraca, puxamos o colchãozinho para fora e abafamos o fogo. Aquele estava perdido. Esturricou. Quanto susto! Hoje sei que fomos salvos por anjos que nos rodeiam.


Amontoamos em um só sleeping. Não foi problema, pois tudo o que queríamos era ficarmos grudados um ao outro.


Amanheceu! Primeiro cocei o calcanhar. Estranho. Senti depois na barriga. Ela, do lado, reclamava de estar com o pescoço pinicando. Mas, que diabos acontece? Pequenos inchaços na pele mostravam algo que não víamos.


De fora da barraca, mal conseguíamos ocupar as mãos em pães, leites, achocolatados, para alimentar a fome matinal. Os dedos buscavam a todo instantes partes do corpo que não paravam de titilar.


Na trilha, ao lado do nosso acampamento, a senhora ao ver o coça-coça desesperado, avisa.


— Vixe, vocês colocaram a barraca em cima de um ninho de carrapato, daqueles bem miudinhos!


Assim, a vida! Haja carrapatos para se coçar!


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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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