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NAS CURVAS DO PENSAMENTO

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 24 de mar. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 13 de nov.

Gielton



Estrada em curvas




Não é sobre carros. É sobre as voltas do pensamento.


Sempre gostei de automóveis. Desde criança, me fascinava o ronco do motor, as alavancas da marcha, o volante, os pedais... tudo!


Adolescente, já dominava a máquina. Aprendi com meu pai, que fora, há tempos, instrutor de autoescola. Aproveitávamos juntos. Eu, garoto e "fominha" ao volante. Ele, amante da cachaça e do truco com os amigos. Depois da farra, na volta para casa, punha o leme em minhas mãos. Vinha feliz da vida, pilotando pelas ruas de Belo Horizonte, claro, sob a orientação do mestre. Eram outros tempos. Hoje, inconcebível.


Sabe aquele sujeito, mesmo sem ser o dono da bola, é sempre o primeiro a entrar no campo? O fissurado? Pois é, sou eu na direção... Essa ânsia de controle de quem decide a rota e a velocidade, talvez esconda o medo de ser um mero passageiro na vida. Certa vez, viajamos em família quase 12.000 km. Fui o motorista por cada centímetro.

Da juventude para cá, foram anos de volante e histórias. Com tanto tempo de estrada seria natural que me acalmasse, mas não, continuo do tipo barbantinho, não solto fácil o volante. Sou o primeiro a abrir a porta do motorista. É até bom para a relação. Minha mulher prefere que eu a conduza. No carro, apenas…

Atualmente, já vovô, gosto de recostar no banco anatômico, sentir as abas do encosto acariciando as costas, apoiar relaxadamente as coxas sobre o assento e deixar o pensamento vagar.


A conexão entre máquina e mente, às vezes, vem em alta rotação. Enquanto o carro permanece na curva, as ideias escapam frenéticas pela tangente. Seguem a reta e reencontram-se ansiosas no quebra-molas. O pé aciona o freio, mas, na cabeça, o pensamento acelerado calcula: será que vai dar tempo? Calma, sempre dá!


O bom é quando a serenidade habita o estar. É como se o veículo conhecesse o caminho e fosse por si. Enquanto isso, a mente perambula longe no espaço. Quantas coisas vêm! O sorriso de algum aluno, a voz doce da mulher amada, o lirismo do último romance, uma música que toca…O pensamento ancora-se na antena e, mesmo orbitando, acompanha o vai e vem da rodovia. Não é preciso velocidade, pelo contrário, a lentidão alicerça as sinapses que, eletrizadas, conectam-se em si. Aí, é só ir!


Alcanço o alto da serra do "Rola Moça". Do topo, como sentado em nuvens, só vejo beleza e esplendor. A vagareza do giro das rodas amplia o deslumbrar. De um lado, morros sobre morros, como se dormissem amontoados uns nos outros. Da direita, lá no grande vale, a cidade fica feito miniatura. E é…


A descida começa com curvas em ziguezague ladeadas por enormes paredões de pedra. Um pouco mais e estou no pé da serra, quase em casa!


O leve trepidar do calçamento acorda o pensamento. Aterro. Abro o portão. Estaciono.


Hora de descarregar o bagageiro...


Assim, a vida! Deixe-se levar pelas curvas suaves do pensamento...



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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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