NAS CURVAS DO PENSAMENTO
- Gielton
- 24 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de ago. de 2022
Gielton
Sempre gostei de automóveis. Desde criança fascinava-me o ronco do motor, as alavancas da marcha, o volante, os pedais... tudo!
Aprendi a dirigir ainda adolescente. Tive oportunidades: meu pai fora, há tempos, instrutor de autoescola. Aproveitávamos juntos. Eu, garoto "fominha" ao volante; ele, saboreador da cachacinha no truco com os amigos, punha o leme em minhas mãos na volta para casa. Eram outros tempos. Hoje, inconcebível.
Sabe aquele sujeito, mesmo sem ser o dono da bola, é sempre o primeiro a entrar no campo? O fissurado? Pois é, sou eu na direção... Certa vez, viajamos em família quase 12.000 km. Fui o motorista por cada centímetro. Sou do tipo barbantinho, não solto fácil o volante.
Com tanto tempo de estrada poderia me acalmar, mas não, continuo sendo o primeiro a abrir a porta do motorista. É até bom para a relação. Minha mulher prefere que eu a conduza. No carro, apenas...
Atualmente, já vovô, gosto de recostar no banco anatômico, sentir as abas do encosto acariciando as costas, apoiar relaxadamente a coxas sobre o assento e deixar o pensamento vagar.
O silêncio do rádio desligado favorece a conexão entre máquina e mente. Enquanto o carro se mantém na curva as ideias escapam pela tangente. Seguem a reta e reencontram-se na descida. O pé no freio aciona o sistema mecânico, mas o pensamento acelerado calcula. Será que vai dar tempo? Calma, sempre dá!
O bom é quando a serenidade habita o estar. É como se o veículo conhecesse o caminho e fosse por si. Enquanto isso, a mente perambula longe no espaço. Quantas coisas vem! O pensamento se ancora na antena e, mesmo orbitando, acompanha o vai e vem da rodovia. Não é preciso velocidade, pelo contrário, a lentidão alicerça as sinapses que, eletrizadas, conectam em si. Aí, é só ir!
Alcanço o alto da serra do "Rola Moça". Acima das nuvens, mesmo quando "eneblinado" entre elas, é só beleza e amplidão. A vagareza do giro das rodas facilita o deslumbrar. De um lado, morros sobre morros, como se dormissem amontoados uns nos outros. Da direita, o grande vale, lá embaixo, pequenino como uma enorme cidade em miniatura. E é!
Passo pelos quebra molas e já estou no pé da serra após as curvas em ziguezague rodeada por paredões de pedra.
Quase em casa! O leve trepidar do calçamento acorda o pensamento. Aterro. Abro o portão. Estaciono.
Hora de descarregar o bagageiro...
Assim, a vida! Deixe-se levar pelas curvas macias do pensamento...
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