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NUNCA MAIS

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 27 de jan. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 31 de ago. de 2022

Gielton





A morte da bezerra passou por mim. Distraído estava, quando, de repente, suspendi minhas antenas e atinei: quantas mortes se vive em uma vida?


Esse fantasma que assombra e mete medo está mais vivo do que nunca. A cada "nunca mais" algo "bate as botas" e alimenta o avejão. Esse, por sua vez, deleita-se com a refeição. Em troca, oferece tristeza ao soluço.


Perdi o peito da minha mãe com pouco mais de dois meses. "Nunca mais" fui amamentado. O desalento mora em mim até hoje. Tão escondido, ou tão bem guardado, que nem sei onde procurar. Sinto o inverso quando meus netos se põem a sugar.


Relações morrem a todo momento, apesar dos antigos amantes manterem-se "vivinhos da silva", quero dizer, com o coração palpitando involuntariamente, pelo menos, alguns renascem nesse desviver, outros afundam na areia movediça até... não sei mais.


A cumplicidade também se esvai. Um dia, o velho companheiro das noites de festas embaladas a cervejas e cachaças lhe diz: parei de beber.


— "Nunca mais?" — você questiona.


— É — ele devolve.


Atônito você fica a entender o que se passa. Então, passa anos esperando o ressuscitar da velha camaradagem. Ela mudou de lugar. Quando vê, o antigo amigo continua inspirando bons exemplos longe dos copos.


Às vezes, o desencarnar da palavra deixa um enorme vazio de silêncio. Cria um muro intransponível entre o casal. Tão rígido quanto a imaginação alcança. Sem palavra, a fantasia sobe aos céus como um papagaio de papel. As ideias vagam como bolinhas de energia orbitando a mente a menos de vinte centímetros. E dá-lhe pressuposições... Assim, como em um passe de mágica o verbo empina da cartola e, mesmo sem estardalhaços, coloca ordem nos semblantes!


Há o momento da morte do trabalho. Quer dizer que "nunca mais" estarei em sala? "Nunca mais" farei explicações newtonianas? "Nunca mais" corrigirei provas? "Nunca mais"... Poxa, nem tempo tive de me despedir.


Isso dói por um instante. Não haverá ressurreição do espaço e do tempo. Esses ficarão para sempre somente na memória. Outros entrarão em cena no velho palco diante da garotada! Haverá sorrisos! Haverá desafetos, como sempre...


Há tantos outros "nunca mais" para sempre em nossas vidas que até parece redundância. Mas não, cada um finca no peito espadas de fazer chorar as dores que sufocam. Nada como o tempo para amaciar e deixar os "nunca mais" bem distantes do pensamento. Aliviado o sofrimento damos um passo à frente.


Imagem do post em <https://pin.it/5js8GLG>

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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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