BENÉS
- Gielton
- 3 de mar. de 2020
- 2 min de leitura
Gielton

Imagine uma mulher. Circunde-a com obstinação e tenacidade. Anteponha pujança emocional, força de propósito e vigor energético. Pois é. É a Bené. Baiana de Prado, ainda adolescente veio para São Paulo indicada por uma amiga da prima. Ficava por conta da filha única do casal, que mais parecia uma "Barbie". Pele branquinha, olhos azuis e cabelo loiro. Com seus pouco mais de três anos sentia-se a filha do coronel. Mandava e desmandava na criadagem. Era cheia de vontades. Ai de quem não a atendesse. Bené suportou bem. Resignava-se o bastante para manter o emprego. Mas sua determinação a colocava na frente. Anos à frente! Passava pela cozinha e estendia o pescoço. Queria saber. Queria aprender. Juraci a adotou. Ensinou-lhe sobre carnes, molhos, massas, saladas... Era só a "princesinha" dormir e lá estava Bené a xeretar as bancadas de mármore companheiras do fogão. Hoje, nas entrevistas para novos empregos, avisa logo: não gosto de cuidar de criança. Até fico um pouco, mas meu negócio é casa e cozinha. Trabalho não lhe falta. Orgulha-se de sua profissão. Gosta do que faz. Aprendeu a driblar o preconceito. Responde prontamente quando desdenham de seu trabalho em casa de família: o pouco que conquistei na vida com meu suor. Não devo nada a ninguém. É daquelas que inclina a cabeça contra a luz para apreciar a sala brilhante depois da cera. Aguarda ansiosamente os elogios culinários vindos da sala de jantar. Basta um "humm" para se sentir recompensada. Reflete os processos. Faltou sal, da próxima... Melhor começar pela roupa, assim, enquanto... Viveu as conquistas da profissão. Carteira assinada, FGTS, seguro desemprego... Hoje as coisas parecem dar passos para trás. Junto do irmão adquiriu meio lote descaído para o fundo. Duvidaram dela. "Bené, gastadeira como é, não vai conseguir construir". Bancou. Fez tudo sozinha. Administrou pedreiros, carpinteiros, bombeiros... Olha que seu pai e irmão são do ramo. Rejeitou as ajudas. Das melhores casas da região é lá que a família se reúne para os festejos natalinos. Ainda lhe faltava o carro. Comprou um Pálio 2008, novinho, excelente estado. Duvidaram de novo. Mulher não sabe dirigir. "Mulher no volante, perigo constante." Tirou sua carteira de motorista depois da quinta tentativa. Em uma delas xingou o avaliador por avisar em cima da hora a conversão para a esquerda. Nem deu tempo de mover a alavanca da seta. Bancou de novo, se fez forte, superou. Quem vai com a Bené para Prado nesse fim de ano? Aí é uma briga danada entre sobrinhos, cunhados e irmãos. Tornou-se a motorista preferida! Lá, entre uma praia e outra, roda e roda, de casa em casa, de cidade em cidade, visitando e acolhendo a parentada. Assim, a vida. Não duvide das Benés...
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