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DORES E PENSAMENTOS

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 11 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Gielton




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As costas doíam. Uma dor como nunca antes sentida. Das duas lombares subiam ondas de sofrimento paralisando movimentos, apesar das sinapses continuarem acesas.

Seria necessário sentir a própria dor para perceber a do outro?

Tentei creme de arnica e bolsa de água quente. Até conseguia permanecer assentado no sofá. Computador no colo e olhos nas telas. E para levantar? Nem muito lentamente era suficiente. Uma fincada de baixo para cima subia até a goela soltar um gemido.

O quanto precisamos sentir no corpo as dores da alma?

A cama se tornou inimiga. A noite, o suplício. De costas, doía. De lado, doía. Virar, doía mais. A angústia da falta de posição deixava o relógio mais lento e o amanhecer mais distante.

Será que exagerei na última quarta quando pedalei por horas com meu neto na cadeirinha?

O jeito foi consultar meu homeopata.

- Alô Dr, estou com dores terríveis na lombar. Acho que peguei um jeito ao dar banho no José. Sei lá, abaixar...

- José não faz isso não. A vida anda pesada, né? Tome Novalgina e Brionia CH12.

O analgésico agia muito sutilmente. Tanto é que a lombar esquerda emitia sinais de sua existência a cada virada, a cada sentada, a cada levantada.

Em Casa Branca as palavras da Lu caíram como uma gota no lago esparramando sentido para todos os lados. Quer dizer que outras pessoas passam por dramas semelhantes?

O frio da manhã cortava o dia. Tomei coragem. Superei o medo do padecer e topei. E se a dor voltar com mais força depois da caminhada? Arrisquei.

Atravessamos uma densa floresta cheia de obstáculos. Troncos no meio da trilha dificultavam o acesso. Nada que, com jeitinho, sem abusos corporais não fosse possível. Os riachos a atravessar exigiam cuidados. Às vezes era preciso colocar uma pedra no meio do caminho para facilitar a passagem.

Pronto, alcançamos a cachoeira. De fora estava gelado mas, o corpo por dentro, aquecido. O sangue corria com mais velocidade e o coração palpitava de alegria pela companhia de pessoas tão queridas.

Entro ou não na cachoeira? Decidi. Não tinha ninguém por perto. Caminhei até a beirada e pulei pelado. Nusga, gelo puro. Nadei por entre os penhascos de ambos os lados nesse estreito leito de córrego. O azul do céu era de um azul indescritível. Mais nítido, mais redondo, mais claro!

A frieza da água era abundante. Meu filho, à frente, conduzia. De repente, o vi de corpo inteiro debaixo da ducha. Minha vez, agora. Fui. Adoro água gelada. Deixei que ela massageasse levemente minha lombar até sentir um profundo bem estar.

A temperatura já estava acostumada pelo corpo. Um pequeno redemoinho entre as pedras toma a forma de uma banheira de hidromassagem natural. A água passando pelos lados, em forma de vai e vem, guia o corpo por essa corrente de fluidez. A essa altura, o sangue, nem tão mais quente, ainda mantinha a caloria interna.

Dois passos à frente outro microcosmo do pequeno riacho gentilmente se ofereceu. Aceitei sentando-me na rocha com todo o corpo submerso na água. Meditei. Baixei minha vibração até quase virar água com água. Deixei a energia galgar pelo físico. Experimentei a força e sutileza da natureza.

De volta ao mundo, revestido e aquecido, olhei para trás. As dores haviam partido! Adeus anódinos.

Assim, a vida. Somos feitos de energia sutil, ou apenas a Química rege nossa existência?

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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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