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ELA E ELE...

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 5 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

Gielton



"Sim", ela disse subliminarmente, como se fosse ao pé de ouvido. Ele levantou-se da cama, passou os dedos por entre os cabelos grisalhos e, intrigado e distante, vagou em pensamentos. Seguiu a vida atribulada, atarefada. Afinal, tanto a conceber, tanto a adquirir. O mundo não pode parar. De repente, uma cravejada no coração, um bambear de pernas, um suor frio e seco. De úmido, só a dor e o medo, transpirando pelo corpo todo. O sofá do escritório foi seu cúmplice. Aconchegado em seus braços, chorou lágrimas de tristeza, lágrimas de incertezas. "Calma", disse a voz misteriosa. "Proponho lhe um trato". Ele pensou: um pacto? Venderei minha alma ao diabo? O que se passa? Quem você pensa que é? Ela, placidamente, explicou. "Almejo experimentar a vida. Em troca, concedo-lhe mais tempo". Acordados, tornaram- se amigos nesses poucos dias de convivência intensa. Ela incorporou-se em uma linda mulher amável e acolhedora. A inteligência nata, mesmo que, para pequenas coisas do cotidiano, fosse, às vezes, inábil e desajeitada, evidenciava-se pela altivez de suas decisões. Sua sensibilidade à vida era cristalina. Valorizava cada átimo. Perspicaz na leitura de almas. Em um piscar de olhos a intenção por detrás das ações alheias delatava-se a si mesma. Tudo captado como se do além. Ele parou tudo! Não havia mais o que conquistar senão o amor. A serenidade invadiu-lhe em atitudes. A gratidão tomou-lhe a graça. Era preciso apressar. Apaziguar as relações. Recuperar o que fosse possível. Reconciliar consigo e focar no que de verdade importa. Tocar suavemente nas profundezas daquilo que fora depositado no fundo da alma. Submergir. Ambos aproveitaram-se um do outro. De mãos dadas nas buscas individuais trilharam rotas de fugas ao comum. Enfrentaram-se, cada um a si mesmo. Ela apaixonara-se pela vida. Ele se prontificou para a morte. A morte e a vida foram, então, lado a lado, em comum acordo, ao encontro do destino inevitável, pois até a morte precisa, um dia, morrer. (Inspirado no filme Encontro Marcado dirigido por Martin Brest)

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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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