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ENTRE UMA E OUTRA

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 7 de abr. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 7 de abr. de 2021

Gielton



Estiveram em nosso lar como de costume. Almoçamos e permutamos querenças. Tudo ia bem quando me apercebi da abordagem mais séria que viria.


— Pai e mãe, não espalhem. Estamos grávidos!


— O quê?


Minha filha, minha pituquinha, aquela bebezinha que dei banho, contei histórias e cantei canções? Que quantas e quantas vezes adormeceu nos meus ombros e, da casa da avó para nossa, foi transportada com todo esmero? Seria agora mãe! Nem acredito... Me belisco?


O arredondado abraço coletivo a oito braços entrelaçados expressou a emoção do instante. A barriga ao centro germinava sonhos e realidades. Seria a filha da minha filha...


Desde esse dia me senti estranho. A felicidade media o tamanho do imensurável. Desejava quão rápido conectar com minha neta. Ela parecia distante... Como se faltasse uma ligação, um fio, uma onda, uma sintonia.


Culpava-me por não corresponder a mim mesmo. Queria curtir a pessoinha, a nenenzinha que nem um peixinho, bem pequeninho no meio do mar do amor. Porque não me vem serenidade para interligar? Nem de olhos cerrados sentia a pequerrucha... A pequenez da barriga dava dimensões ilusórias do que viria a existir. Ah, sim, deve ser essa a explicação.


A barriga cresceu, o embrião formou-se. As imagens do ultrassom, como fotos pré natal, mostravam com nitidez a menina já feita. Até gostava de dar seus pontapés e espreguiçadas sobre a palma da minha mão que pulava como uma bola sobre a barriga da mãe. Costumava fazer essas peripécias quando lhe bem entendia. No entanto, o enigmático persistia.


Demorei a entender! Ela ainda teria a sua vez no colo do vô. Mas, era a mãe que irradiava boniteza e merecia o aprecio. Seu semblante de grávida exalava o aroma do amor. A paz invadiu seu coração. Como esses nove meses lhe fizeram bem! Se disse lenta no pensamento. Entendi, precisa nas escolhas. Falou de esquecimentos e desmemorias. Não, brotavam apenas lembranças que valiam a pena. Tornou-se uma grávida resplendente!


Reparei no seu caminhar. Suave, despretensioso, sem pressa no alcançar. Aliás, não há meta além de cuidar daquela vida sobre vida. Passo após passo, como uma astronauta, flutua no espaço em tempo de lentidão, mas de inteireza. Pontuda, a barriga vai à frente. Cruza troncos no meio do caminho e trilha pequenas florestas para alcançar as pedras rodeadas de água corrente. Fluido que desce em golfadas como a vida, em fluxo continuo, porém por trânsitos labirínticos. Não importa a corredeira, há convergência no chegar. A água fria não acordou a bebê bem acomodada no útero materno, mas deu ainda mais energia e lucidez à mamãe. Cachoeiramos todos!


A netinha pode esperar com paciência minha amabilidade. Ela sabe dos colos afetuosos que virão. Agora, no entanto, é momento de salientar a força, a beleza, a magnitude e o mistério da mãe que se apronta para aquilo que os céus arquitetam para ela.


Assim, a vida! Às vezes mudar o foco trás olhares inesperados.


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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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