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ESPERANÇA

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 15 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura

Gielton




Estacionei o carro em uma rua lateral. Atravessei a Contorno e já estava na praça. Nada sabia sobre o evento, apenas que minha mulher cantaria no coral.

Fui chegando de mansinho. Descendo a rua, vi gente, bastante gente. De um lado, técnicos preparavam o som. Mais abaixo algumas barraquinhas... Seria uma festa junina, em pleno agosto? No meio do quarteirão um aglomerado de pessoas bebericando, conversando, trocando energias. Havia um grupo de samba dentro de uma garagem. Música boa, agradável aos ouvidos.

Ainda meio ressabiado avistei meu médico homeopata, também cantor do coral. Um abraço afetuoso para entrar no clima. Fui entendendo aos poucos.

Um encontro, deliberadamente programado, para alimentar nossa esperança. Gerações se encontram. Grisalhos cantam "Criaturas da noite" e ensinam jovens de sorriso largo um modelo de ser. Fizemos, e faremos de novo, se preciso, juntos.

Cada detalhe não pode passar despercebido. A roda de samba, de Noel, Nelson e tantos outros, dá vez ao coral da Marilu. Em plena praça as vozes de senhores e senhoras ecoam canções que trazem ânimo.

Nos entornos, uma guria se aproxima de seu grupo e com um pequeno toque no cabelo, primeiro sorri, diz algo e abraça afetivamente a jovem negra de cabelo black.

Do outro lado, um rapaz, lindo, de barba aparada, parecia vestir um pijama rosa de estampa preta. Camisa e bermuda. Aparentemente másculo e, ao mesmo tempo, tão feminino! Os lábios movem-se em uma fala delicada e o olhar atento ao interlocutor revela interesse.

No palanque improvisado a artista famosa canta Angola levando com ela as vozes do público. Há reverberação para o bem! Há sintonia para a luta. O vereador em discurso antiquado ocupa seu espaço. Deixa seu recado.

Sinto-me agora integrado ao espaço, às pessoas, à causa. Partilho ideias com amigos. O mundo anda louco. Nosso país, nem que o diga, está pra lá de esquisito. Banalizamos o ridículo corriqueiramente. Discutimos o vazio enquanto interesses maiores articulam. Nunca imaginei, nessa idade, já avô, viver algo semelhante, de tamanha decadência! Mais parece um pesadelo. Estamos despencando de um grande desfiladeiro.

Por trás dos galhos secos da árvore, bem no alto do céu limpinho, a Lua, quase cheia, se apresenta. Ilumina menos que as lâmpadas da rua no lento anoitecer. Pena, tem menos força na cidade grande. Mesmo assim, olho para cima, paro e escuto o que tem a me dizer.

- É a vez deles. Essa é a turma que "segue em frente e segura o rojão".

Entendo que da "boniteza" da juventude nasce a esperança, leve como uma pluma, quase imperceptível, mas capaz de mudar o estado da coisa.

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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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