top of page

MANHÃ

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 28 de mai. de 2018
  • 2 min de leitura

Gielton


Mesmo não sendo meu dia de dar aulas, cheguei cedo ao trabalho.

Fui direto para o auditório. Arriei meus equipamentos e iniciei a montagem. O tempo era curto, eu sabia. Além disso, havia muitos pormenores.

Tudo ligado, funcionando como o previsto. Alguns alunos começavam a chegar. Tinha esquecido o tripé. Corri no laboratório, mas o almoxarifado estava trancado. Vai sem ele mesmo.

- Se acalma, Gielton, vai dar tudo certo. Falo pra mim mesmo.

Lá de cima, posso ver a turma descendo a rampa. Ai, meu Deus!... Em um rápido encontro com o coordenador, acertamos os últimos pontos. Que bom, terei um tempinho a mais para me concentrar.

Me sentei na última fileira, fechei os olhos e comecei a trabalhar as energias. A fala do coordenador estava distante. As palavras não faziam sentido, apesar de o som chegar normalmente aos meus ouvidos. Estava absorto e, ao mesmo tempo, concentrado, tentando reduzir a frequência cardíaca.

Pronto, é agora. Não, antes tinha um vídeo do Bob Dylan. Ai, que agonia!

Subo ao palco. Tudo se transforma. A escrita de hoje cedo me ajuda a lembrar as falas iniciais. Improviso e, como num passe de mágica, as palavras vão se soltando de mim. Encaixadas, encadeadas.

Aos poucos, minha ansiedade vai dando lugar à confiança, estendida pelo semblante dos alunos, atentos e curiosos.

Entro na primeira canção. Bem recebida. Começo a segunda e insinuo um ritmo com as palmas da mão, prontamente acompanhado por eles.

Penso: vou fazer o planejado. - Gente, vocês conhecem Vatapá? Quem aí sabe o que é?

Continuo: - Culinária baiana de origem afro-brasileira. Dorival Caymmi fez uma canção, mas preciso da ajuda de vocês. Nesse trecho, vocês cantam: "um bocadinho mais".

Deu muito certo, tanto no ritmo quanto na melodia. Que legal a participação deles. O envolvimento, empolgação, alegria... Contagiante!!!



Na hora de "Tijolo e água", todos cantaram. Lá de cima via alguns, mais tímidos, quase sussurrando. Outros, impondo força e decisão na voz. Sorrisos, palmas, braços levantados acompanhando a batida do violão. De um lado, percebi os olhos brilhando de duas jovens que se recostaram uma na outra. No lado oposto, outra estudante ouvia e sentia de olhos fechados.

Acho que viemos ao mundo para nos afetarmos mutuamente. Quanto afeto trocado nessa manhã!!

Obrigado, turma!!!


Revisão: Maria Lucia Pompein Pessoa

Comentários


Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

  • Ícone de App de Facebook
  • YouTube clássico
  • SoundCloud clássico
bottom of page