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METIDEZ

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 24 de fev. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 25 de ago. de 2022

Gielton




Sabe aquele cara metido? Isso, metido a besta? Pois é, sou eu... Arrogante, presunçoso, soberbo, prepotente, e um monte mais de outros adjetivos. Vai vendo...


Nossa primeira viagem para o exterior foi para a Bolívia, povo vizinho. Não sabia nada das suas tradições, do jeito de ser, da cultura. Vixe, muito menos da língua. Uma palavrinha sequer em espanhol. Tudo bem, dizem que é fácil aprender. Para mim então, vou tirar de letra!


Era dia ainda. Estava sentado na cadeira do corredor do ônibus a caminho de La Paz. O sujeito do lado se volta para mim e diz algo. Levei um susto! Não compreendi bulhufas! Nada, nada... Não fazia ideia nem do assunto! Encolhi os ombros e abri as palmas das mãos. Ele entendeu o gesto! Virou-se para o lado e me desprezou. Pensei: tô fudido! Aliás, como se fala essa expressão em espanhol?


Entrei "numas"! A cena do ônibus cutucou minha hombridade. Não deixarei por menos. Só saio daqui "hablando" na língua do povo.


Estiquei meus ouvidos a uma atenção descomunal. Aprendi a pedir "puedes hablar más despacio, por favor?" (você pode falar mais devagar, por favor?). O dicionário de bolso - papel mesmo, naquele tempo não tínhamos Internet como hoje - tornou-se fiel companheiro. Nos quartos de hotel, a TV sempre estava no mais alto do volume. De frente, me concentrava para entender o noticiário.


Percebi que ganhava atenção e cuidado quando mostrava interesse pela língua nativa. Perguntava: "como se dice" e apontava para algo, ou tentava um parco portunhol da palavra ou expressão duvidosa. Sentia-me acolhido. Os vendedores, garçons e até transeuntes eram quase sempre muito receptivos.


Com minha mulher levantava hipóteses. Como será que se diz em espanhol "vamos atravessar a rua"? Deve ser algo do tipo "vamos proceder la travessia". Gargalhávamos do "chute" bem dado que não trazia certeza de nada.


Me achava o máximo. A certa altura minha língua se soltou. Era quase como se não precisasse pensar muito para dizer algo. Se o comunicado saísse do eixo, o interlocutor corrigia o ângulo indicando pronúncias.


Um dia, admirando as centenas de fotos da viagem, brinquei com ela.


— Nossa, como sou fotogênico! Fico bem demais nas fotos...


Veio a dúvida: será que existe a palavra fotogênico em espanhol?


— Claro que não!


Afirmei com convicção. Na minha mente seria uma palavra muito específica, muito própria do português. Fotogênico em espanhol deve ser algo como "el bonito da foto"...


Perguntamos ao garçom, lógico, na pronúncia correta (fotorrênico). Ele respondeu prontamente algo como;


— Hay si, el que se acha, el que se tira de artista...


Nossos olhares se encontraram em um riso só! Era euzinho, o fotorrênico, o metido da parada.


Assim, a vida!


Imagem do post em <https://pin.it/64Njeih>


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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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