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NE-CES-SI-DA-DE

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 19 de nov. de 2019
  • 2 min de leitura

Vou te contar uma história. Lá da minha infância. Um caso que muito me marcou e trouxe consequências para o adulto de hoje. Talvez, você leitor, tenha vivido algo semelhante. Quem sabe?

As letras andaram distantes da família de onde vim. Meus tios mal passaram da quarta série primária. No entanto, minha mãe, caçula de doze irmãos, teve a chance de cursar o magistério. Tornou-se professora.

O tempo por ela dedicado aos "Para casas" dos filhos era o sinal do enorme valor que dava à educação escolar.

Sentava-se à mesa conosco, em um momento exclusivo ao estudo. Cadernos, livros, lápis e régua espalhados sobre a mesa eram as ferramentas da construção do aprender. Sua profissão, lógico, ajudava muito. Tocava cada assunto com a sutileza de uma flauta doce. O som açucarado de sua abordagem trazia autonomia. Nem percebíamos, mas ganhávamos independência.

Primeiro as pesquisas eram realizadas na enciclopédia Delta Junior, mais ilustrada e com menos informações, e na Barsa, mais completa e detalhada. Tutoreava nosso indicador deslizando sobre índice. Era um suplício encontrar o assunto pela ordem alfabética. Sempre me confundia com a sequência de letras. Depois, fazíamos um resumo de cada enciclopédia para, no final, compilarmos as informações. No segundo grau me libertei desse acompanhamento, desde que, não houvesse vermelhos no boletim.

Estava na segunda série primária. Hora da prova. O lápis na mão direita tremia feito vara verde, enquanto o lado esquerdo do cérebro se embolava todo na grafia das palavras. Ditado! Ai meu Deus. Não encontrava a ressonância lógica entre os sons e as letras. Confundia tudo: "p" e "b"; "f" e "v". A droga do "ç", "s" ou "ss", era foda. Não acertava um. Era como se não coubesse na memória.

Esteticamente minha grafia não era lá essas coisas. Usei caderno de caligrafia. Sim, aquele com pautas especiais para aprimorar a escrita. Por mais que caprichasse, minha letra era considerada feia e, imaginem, junto com ela minha autoestima descia para o pé. Substituí, na juventude, a letra cursiva pela letra de forma, adotada até hoje quando escrevo no quadro para meus alunos.

Ói só prô cê vê. Logo eu, muito bem acompanhado pela minha mãe!

Certa vez, depois de uma redação catastrófica em termos ortográficos, ganhei uma tarefa árdua, cansativa e monótona.

Minhas férias se dividiram entre o caderno de caligrafia, o lápis e a borracha. O castigo? Escrever repetidamente uma palavra que tinha em sua grafia "c" sem ser cedilha e dois "s". "NECESSIDADE" foi a escolhida. Foram mais de duzentas "NECESSIDADES", enquanto meu nariz farejava deliciosas manhãs ensolaradas.

Havia NESSECIDADE disso?

CINSSERIDADE? Acho que o "tiro saiu pela culatra". Ainda hoje tenho dúvidas frequentes de ortografia. Posso confessar baixinho pra você? Quem me salva atualmente é o corretor ortográfico do Word e os livros que aprecio.

Assim, a vida. Nunca passou pelos meus horizontes escrever textos para as pessoas lerem!

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2 Comments


Gielton
Gielton
Nov 21, 2019

Obrigado! Concordo...

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ctportugues
Nov 21, 2019

Parabéns, isso é uma necessidade!

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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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