top of page

NO CAMINHO

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 18 de mar. de 2020
  • 2 min de leitura

Gielton



Ainda perto de casa, a primeira descida. O intenso trânsito das sete e a rua apertada trazem os carros para perto de mim. Às vezes compito com eles. Descobri, no entanto, que o melhor é ficar na minha, quieto e devagar no meu canto. Trecho tenso. Arriscado. Por mais cuidadoso que seja, estou sujeito a um sujeito mau humorado pela manhã. Mau acordado. Alguém, repentinamente, pode apelar por outro lento atravanca-lo. Eu mesmo já pensei sobre isso quando estive do lado de lá.


No final da descida reencontro a paz em uma ruela tranquila. Hora de curtir as maritacas da cidade. Gritam feito loucas. Estariam se comunicando? "Vamos, para a outra árvore!"... E saem em grupos. Voam longe e pousam. Os bem-te-vis ressoam como se de longe nos observassem. Cinzentos pardais, não menos encantadores, refletem a aridez da cidade grande.


Na esquina, o guardador de carros, o mesmo de todos os dias, parece carrancudo e desconfiado. Tenho certeza que sabe de mim. Nunca trocamos uma palavra sequer. Às vezes nos cumprimentamos com um leve balançar de cabeça. Pessoas cruzam nossas vidas aparentemente sem propósito.


À esquerda deixo a contramão e encaro a subida. Ainda em paz, o coração acelera apesar do ritmo dos movimentos ser lento. Às vezes viajo e vago em pensamentos. Vou longe sem quase sair do lugar. Enquanto subo, mantendo a marcha, trabalhadores e trabalhadoras da manhã descem. Uns mais apressados que outros. Há um ponto de ônibus bem ali.


Cruzar a avenida requer atenção, apesar de conhecer os tempos dos semáforos. São duas pistas e quase sempre passo por elas numa só tacada. Quando não, aguardo no canteiro central. O fluxo intenso de pista a pista atordoa.


A cidade se transforma do lado de lá. Os poucos edifícios antigos e modestos dão lugar aos arranha céus envidraçados, estilosos e luxuosos.


Adolescentes uniformizados tomam conta das calçadas no próximo quarteirão. Posso sentir climas em um sorriso sincero, um olhar apaixonado ou apenas um toque de mão seguido de um beijo informal. Encontram-se no trilhar da vida. Juntos, se formam.


O supermercado logo à frente tem um "plus" de sobrenome. Contorno o parque de árvores frondosas que pintam de verde clorofila essa parte do bairro. Dão bom ar ao enfumaçado tóxico dos canos de descarga. Quanto privilégio para o entorno.


Pronto, estou quase lá. Na descida final o vento flui por mim em uivos que só eu posso ouvir. É da nossa intimidade. O sol, entre dois edifícios, alveja meu corpo. Sinto pleno seu toque de calor. Sigo sem pressa. Há tempo para chegar com calma.


O portão deslizante se abre e junto com ele um "bom dia, Tiago". Ganho de volta, além do sorriso cotidiano: "bom dia, bom trabalho".


Penduro a "magrela" e, prédio adentro, subo as escadas.


 
 
 

Comments


Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

  • Ícone de App de Facebook
  • YouTube clássico
  • SoundCloud clássico
bottom of page