O CONVITE
- Gielton
- 31 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
Gielton

Éramos muito jovens quando nossos filhos desceram dos céus. As fotos desbotadas revelam rostos quase infantis. A "barrigudinha" cheirava a leite. As vezes, me surpreendo. Nem sei como demos conta de tamanho desafio!
Outros tempos. Outra lógica. Outras necessidades. Internet? Nem em ficção. TV a cabo? Celular? Nada disso passava de pura especulação. Existia sim, o fixo. Com ele, tudo era combinado. Acertado em horários cumpridos à moda de "dar certo". E se não desse, não tinha problemas. Tivemos uma extensão externa da casa dos meus sogros. Se contar, os jovens de hoje não acreditariam. O sino do telefone badalava simultaneamente nas duas residências em bairros vizinhos. Aqui e lá alguém atendia. Desligava aquele que percebia não ser para si.
Havia filosofias. Princípios estabelecidos pelo impulso social histórico. Os jovens corriam por liberdade, por contraponto, por um "fazer diferente". Autenticidade era valor. Andar com as próprias pernas era meta. Sofrer do próprio destino, propósito.
A sala com esteira de palha e almofadas no barraco ao fundo do lote era morada dos sonhos. O guarda roupa herdado da fase de solteiro fazia companhia à cama adquirida a mils prestações. O balaio acolchoado era o bercinho do neném. Feito a mãos carinhosas e orgulhosas no pique das construções autônomas. Ela, "petitinha", dormia do ladinho da mamãe sedenta por amamentar leite da vida, protetor dos germes e bactérias espalhadas pelo mundo. Elevar o bebê para o tradicional arroto era tarefa do pai, que mal tinha cinco de dias de licença e caía de pronto no trabalho após noites e noites mal dormidas.
O gosto era triunfar sobre esses desafios. Dar conta da vida na ponta do lápis. Aprender juntos e, em comunhão, trilhar caminhos desconhecidos na certeza de que tudo daria certo, no tamanho que esses certos teriam.
Cuidamos para que nossos pais, desejosos por compartilharem suas experiências, também aprendida a duras penas, pela ânsia de conhecer e lidar com seus primeiros netos, guardassem seus segredos. Não que não quiséssemos amparo. Era só na medida certa! A nossa, é claro.
Agora, são outros tempos. Um novo mundo surgiu nessas décadas. Os filhos dos nossos filhos são concebidos e aguardam sua vez de experimentar o mundo. Uma "pequerrucha" está por vir. E será logo, logo!
— Pai e mãe, quero deixar muito claro.
— Que foi minha querida gravidinha?
— Quando nasci, já entendi, tinham necessidade de rompimento com velhas formas de fazer.
— Sei. Onde quer chegar?
— Nisso! Eu não preciso disso. Vocês são a minha referência de amor, confiança e experiência. Quero que estejam conosco, bem de perto, muito juntinhos, nos ensinando a dar banho, a fazer arrotar, a cuidar, trocar, a ter calma... Precisamos de vocês.
— Claro filha, faremos com todo o prazer, evitando, claro, invasões.
— Nossa relação não permite intrometimentos. Saberemos juntos a hora certa de nos deixar. Fiquem tranquilos!
Pendi a cabeça para rodear a alegria incontida. Camuflei o sorriso. Engoli o choro. Durão, eu? Pura emoção!
Há muito a aprender sobre expressar amor e gratidão...
Assim, a vida. Dá voltas deliciosas em torno de nós.
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