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PRAFRENTEX

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 21 de ago. de 2018
  • 2 min de leitura

Gielton



Minha mãe, nascida em 1930, é a caçula de uma família de doze irmãos, todos nascidos em Santana do Pirapama. Não tive a honra de conhecer meu avô, Joaquim Machado, mas ouvi muitas de suas histórias. Diziam ser um homem durão, bem ao estilo de seu tempo. Honesto toda a vida. Detestava mentira, de qualquer natureza. Trabalhador, batalhou na vida e adquiriu algumas terras na região onde viveu.

Minha mãe foi criada por suas irmãs mais velhas, pois vovó Ambrosina faleceu quando ela ainda era criança. Talvez, por isso, a família tenha se tornado mais unida. Apesar de meus tios mal terem passado do primário, quase todos os sobrinhos e sobrinhas se graduaram. O estudo se tornou importante valor para a família.

Tia Naná foi a primeira a se mudar para Sete Lagoas, cidade grande perante a roça onde viviam. Acolheu vários sobrinhos, os mais velhos, para cursarem o ginasial, como se dizia na época. Outras tias vieram em seguida. Tempos depois, quando as condições de transporte melhoraram, os maridos puderam se dividir entre a cidade e as fazendas. Quando nasci, praticamente todos já moravam em Sete Lagoas, menos a minha mãe que, depois de casada, foi direto para Belo Horizonte.

Meu pai nasceu em Conceição do Mato Dentro, não tão distante de Pirapama, mas em outra região. No entanto, no meu tempo de criança, vovó Lilica e Vovôzinho – avós paternos – moravam também em Sete Lagoas, além de mais alguns tios por parte de pai. Era primo que não acabava mais. Tias e tios em todos os bairros da cidade. Às vezes fazíamos uma verdadeira "via sacra" visitando a parentada.

Passei muitas férias e fins de semana em Sete Lagoas. Em uma delas, ainda muito novo, por volta de uns nove ou dez anos de idade, fiquei na casa da tia Lilita, irmã da minha mãe. Ela morava bem perto dos meus avós paternos. Sozinho podia, quase que livremente, transitar entre as duas casas. Ia e vinha como se dominasse os espaços. Me sentia descolado, mais velho do que realmente era.

Nesse tempo, sinceramente, nem pensava nas meninas. Meu negócio era brincar e brincar e brincar...

Mas, meus primos, quase sempre mais velhos, me colocaram em uma enrascada. Percebia o cochicho deles tramando qualquer coisa. Sentia algo estranho no ar. Uma atmosfera pesada de segundas intenções. Era um fim de tarde. Entrei pelo portãozinho de frente da casa, onde, ao lado, havia um pequeno muro com grades bem baixas. Insistiram para que contornasse o jardim da frente até chegar à lateral da casa.

Assim o fiz. Na curva, me deparei com a vizinha, uma garota da minha idade, "prafrentex" pra caramba, que me aguardava. De sobressalto, me lascou um beijo na boca. Fiquei grogue, zonzo, desarrumado. Perdi o rumo. Não pelo prazer que poderia proporcionar, mas pela surpresa do inesperado. Sem conhecer a delícia do toque feminino, saí limpando os lábios, sentindo o estranho gosto do outro.

Só vi meus primos, de butuca, gargalhando, doidos querendo saber como tinha sido a experiência.

Eu, sem graça, silenciei.

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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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