REENCANTO
- Gielton
- 8 de ago. de 2019
- 2 min de leitura
Gielton

Somos, ambos, professores. Sempre viajamos nas férias, mesmo quando as crianças eram bem pequenas. Minha matemática colocou na ponta do lápis e a coluna "deleite", no gráfico, realçava. Era, certamente, a de maior porcentagem. Custo benefício? Positivo.
Hoje, já avós, ainda aproveitamos nosso recesso para conhecer novos lugares, novos países, novas paisagens. Só a diretoria, como brincamos. Seguimos o slogan dela: "Viajar é produto de cesta básica". Há reencontros por essas bandas distantes, quando, tão perto, nos deixamos engolir pelo cotidiano cheio... de afazeres?
Cruzando o Atlântico de volta pensei. Amanhã o rebento, filho do meu filho, irá nos visitar. Será que me reconhecerá? Se lembrará dos passeios de bike? Das brincadeiras de cambalhota? Do, "olha o grandão aí gente"!?
Estava ainda meio tonto de tanto fuso horário na cabeça. Aqui, eram três da tarde. Minha mulher fora buscá-los na rodoviária. Escutei o barulho do portão se abrindo. Calculei o tempo para subirem as escadas e me posicionei. A porta da sala se abriu e alguém disse.
- Olha quem está ali!
O colocaram de pé. Espontaneamente abriu um sorriso, como quem diz.
- É o meu vovô!
Não titubeou. Com um caminhar trôpego se moveu em minha direção. Nesses poucos segundos o mundo ficou em câmera lenta. Com o campo de visão lateral desfocado acompanhei cada passo. Um pé após o outro em um equilíbrio precário e firme ao mesmo tempo. O tênis azul novo compunha com a calça jeans. Os quatro braços se abriram. Eu, de joelhos, senti sua aproximação e o contato se deu coração a coração. O tempo distante se encurtou nesse átimo. Agarrei aquele menino com toda a força do mundo. Coloquei-o no colo e grudamos.
- Quantas saudades!
Ele respondeu.
- Dadá.. dadadaá!
Éramos avô e neto, de novo, em pleno reencanto!
Comentários