RESPIRAÇÃO
- Gielton
- 24 de jun. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jun. de 2020
Gielton
O dia era frio, apesar do Sol entre nuvens transparecer certa quentura. O combinado, fragilizado por esse clima aparentemente instável, não os impediu de subir, assim mesmo, até o pocinho. Uma dúvida pairava no ar. Teria sido uma boa decisão? Poucos quilômetros dali desciam a trilha ao lado da ponte velha. Em arco de tijolinho à vista poderia até ser um ponto turístico e histórico, por onde passaram, muito antigamente, tropeiros levando e trazendo diamantes para a realeza. As pedras às margens do córrego, pontudas para um lado só, dificultam o caminhar. Nada que um pouco de prudência os permita alcançar em segurança o local preferido. Estacionam as mochilas e sacolas para o piquenique. Ali viveram bons encontros de outras vezes entre gargalhadas alegres de outros verões. Nesse inverno, encolhidos entre os próprios braços, buscam frestas de sol que amenizem o vento frio circulando misteriosamente o ambiente. O grande astro até dava sua aparecência por alguns poucos minutos. Tão poucos, que cada um, ao seu tempo, decidia: "Acho que hoje não entro nessa água gelada". O mais velho se aventura. Em um pulo só deixa seu corpo mergulhar na parte funda do poço. Sente, de imediato, o impacto. Estremece o tronco. Disfarça com um nado rápido enquanto as águas geladas faceiam suas braçadas determinadas. Depois de algumas idas e vinda está pronto para meditar. Escolhe um ponto de águas paradas, nem tão profundo, nem tão raso. Coberto até o pescoço acomoda-se em equilíbrio. O peito levemente para a frente, as pernas arqueadas e os pés firmes tocando o fundo lhe dão sustentação suficiente para um repouso quase absoluto. Assim, imóvel, sente a frieza da água que lhe acalma. Os olhos cerrados dão amplidão à percepção. Ouve um pássaro ao longe como se o som estivesse ao pé do ouvido. O vento rasga o rosto em uma rajada única que se vai e trás, em compensação, raios que abrandam e tocam gentilmente os ombros nus. A energia circula pela extensão do corpo. Dentro e fora, ao mesmo tempo. Ele sabe que é água. Mentalmente abrevia sua vibração. Deseja um encontro único entre si e o que transpassa a essência. Perde-se de si e encontra o fundamental. O ser que de humano é natureza. Bruta e doce. Em um átimo o peito álgido aquece o coração. Ama a si, a tudo, a todos... Infla! Respira! Comovido, está apto a se devolver à civilização. De volta ao mundo, vê seus companheiros entre biscoitos e frutas a desfrutar de uma atmosfera que eleva o sentimento de pertença.
É hora de voltar.
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