SONHO
- Gielton
- 12 de mar. de 2019
- 2 min de leitura
Gielton

Garoto esperto! Desde muito novo era um ás na bicicleta. Eu tinha uns dezesseis, ele, uns dez. Minha bicicleta era de gente grande, a dele, de gente pequena. Andávamos juntos pelas ruas do bairro, a Nova Granada, quando seus pais iam nos visitar. Sua mãe era sobrinha da minha.
Dessas deliciosas pedaladas, quase infantis, nasceu um sonho: seria eu jovem o suficiente para bikear com meus filhos?
Águas de muitos carnavais passaram debaixo da ponte. Ela, quase bebê, se sentava na cadeirinha presa ao guidão e ajam domingos de Sol para pedaladas e pedaladas. O segundo, ainda caçula, também se esbaldava com o pai ciclista. Ambos adoravam. Eu, nem se fala.
Itaúnas, cenário de praia e dunas no Espírito Santo, teve nossa preferência por anos a fio. A magrela e a cadeirinha iam dependuradas na traseira, quase caindo BR afora. Um dia eles cresceram. Agora eram três bikes atadas ao porta-malas do Voyage preto, além de tantos outros babilaques. Tudo destinado ao prazer das férias.
Em terra firme, a pergunta era recorrente.
- Onde você alugou as bicicletas?
Orgulhosa era a resposta na ponta da língua.
- Não, eu as trouxe no carro.
O espanto era a consequência.
Ensinar a se equilibrar foi o primeiro passo. Segurando no banco, correndo atrás e dizendo "vai, pedala". "Não para"... "Continua"... Até...
- Ô pai, você me soltou! - Viu? Você já consegue sozinho!
Aí era só ganhar confiança. Mais algumas sessões de incentivo, seguidas de desfoladas superficiais e pronto. Com a baixinha dominada era só curtição em família.
Voltei ao menino de dezesseis, agora com os filhos, cada qual se equilibrando nos contornos do caminho. Não tinha tamanho para a felicidade que sentia. Sonho ou realidade?
Veio o terceiro, temporão. O ritual se repetiu, de um jeito diferente, é claro. As pessoas mudam, as coisas mudam, mas a cadeirinha e a bike do mais velho foram herdadas. Sonho?
Nesses dias comprei outra cadeirinha. Escolhi o velho e conhecido modelo dentre outros tantos mais modernos e cheio de piripacos da loja. Ansiedade? Talvez. Só sei que ficou grande para o pequeno mais novo da família. Paciência! Nada como o tempo. Cresceu, ficou durinho, aprumou-se.
Ontem saímos, pedalando pela praça. Quanta memória, quanto prazer! Os pezinhos ainda não alcançam o apoio. O guidão alto não impedem suas mãozinhas firmes o segurarem. Não imponho velocidade, mas sinto o vento por ele, sinto o mundo passando por ele, por seus olhos atentos. Sinto seu prazer e ele sente o meu. Entramos em simbiose e silenciosamente nos conectamos. Os sons dos nossos corações se encontram entre a bicicleta e a cadeirinha.
Assim, a vida. Algum sonho ainda por vir? Por enquanto vivendo o momento. Pedalar com o neto pelas ruas da cidade. Obrigado por existir, José.
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