- Gielton
Gielton
Deixei a dor penetrar e adentrei em mim. Não quero conversa. Falar não quero. Amuei!
Convergi aos afazeres. Dessa vez, labor de mãos e ferramentas. Claro que há pensamentos, formas, sequências. Essas, perpassam o humano em todas as suas dimensões.
O estado de espírito afetou. Apelei com a mangueira vazia que insistia em enrolar-se. Como eu, embrulhado em mágoas e atado ao ontem, fiz do remorso meu modo. Triste perdurei, enquanto o tempo precisava.
Virei-me na cama. Do lado preferido "enconchei" em mim mesmo. As mãos aquecidas entre coxas não diminuíam a frieza desolada do estar. Bateu saudades de quem já se foi. Vontade de reencontrar até algumas gotas molharem o travesseiro.
Não me lembro dos sonhos, mas clareei mais disposto. Brinquei com a cadela, testei meu invento aguando hibiscos novos recém mudados, catuquei, mexi e virei. Entranças de um novo dia.
Nada de falar ainda. Não quero. Fiquei no trivial, no estrito, nada mais do que o inescusável. O baque fora grande. Ainda recuperando da "traulitada".
Li. Li Riobaldo. Estremeci com suas filosofias. Continuei lendo. Páginas que voam em asas de papel e palavras que encharcam nosso estado foram amálgama dos bons ares. Seus dramas, digo de Riobaldo, eram outros, diferentes dos meus, mas alentaram. E como!
Fui me redimindo. O coração acabrunhado e encolhido soltou levemente as amarras, como se fosse possível navegar novamente. Ainda dói, mas a desesperança, que antes era corpo todo, agora é ponta de braço. Está indo pelas bordas dos dedos igual raio em descarrego.
Encontro-me aqui com polegares em frenesi, de letra em letra, buscando aquilo que o sentir sente. Difícil tradução. Confusa sensação. Nem sei a língua que fala. Expressar, então!
A pálpebra sobre os olhos esconde a claridade. Entorno em mim. Ainda perturbado, estremecido e tenso, enxergo por dentro um aguardo de dias melhores.
Assim, a vida! A letra que salva!
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