CORRIDAS
- Gielton
- 18 de set. de 2018
- 2 min de leitura
Gielton

Houve um tempo em que intensifiquei minhas atividades físicas. Do desejo de regular minha pressão arterial troquei, gradativamente, as lentas caminhadas pelas corridas.
Quem me acompanhou nessa empreitada? Quem?
Claro, e de cara boa, feliz da vida. Acho que aproveitou bem essa época de longos passeios. Nos tornamos mais íntimos, cúmplices de nossa própria história.
Tinha meu ritual. Sempre fui de rituais. Dizem que sou sistemático. Guardava a guia no bolso enquanto andávamos, sem pressa, pelas ruas mais tranquilas do bairro, até alcançarmos a avenida. Livre, nesse trajeto, fazia de tudo. Xixi em todo canto, uns dois ou três cocôs pelo caminho. Tinha a mania de girar em volta do local escolhido. Eu já sabia. Sacava o saquinho para limpar. Farejava tudo. Preferia os matinhos, de todos os tipos. Uma grama alta no canto da calçada, uma flor ou um arbusto, tudo, tudo... Via o mundo pelas úmidas narinas. Sentia a energia através dos odores. Às vezes parava, empinava a cabeça e sugava o ar nariz adentro buscando alguma sensação diferente, ou familiar.
Nossa comunicação se aperfeiçoou nesse tempo. "Parou", com forte entonação, significava esperar na esquina. Nunca atravessou a rua, exceto, quando, ainda bem novo, se empolgou com algum coleguinha do outro lado. "Vamos", dito de forma suave, indicava, siga adiante. Criamos, juntos, muitas brincadeiras. Em uma delas, pedia para "sentar" e ficar "quieto". Enquanto eu dava alguns passos à frente, permanecia imóvel, atento aos movimentos, mas ofegante. Me virava e, batendo uma palma, simultaneamente dizia, "pode vir". Saía em disparada, como se largasse em corrida de atletismo, até passar por mim. Era pura alegria!!!
Na avenida, ligava meus aparelhos: frequencímetro, app para corrida, música, fone... De guia frouxa em punho íamos. Chegamos a marca de 10 km em pouco menos de uma hora. Acompanhava-me bem. Sentia o ritmo das minhas passadas e seguia do lado. De pescoço em pé, como um cão ensinado, mantinha-se concentrado, enquanto, atentamente, observava o entorno. Ao contrário do meu grande esforço, parecia fácil pra ele. O veterinário disse que era demais. Provavelmente me seguia pela fidelidade canina. Será?
Só sei que nessa época ficou com a musculatura bem definida, tipo tanquinho. Coxas torneadas. Cão bonito e bem cuidado. Como um leão, dobrava as patas ao caminhar em passos seguros e firmes. Éramos muito elogiados. Ele, é claro, através de mim, que apenas, sorridente, concordava.
Em casa, exausto, deitava em sua cama até o próximo lanche.
Nunca recusou esses passeios. Nem mesmo quando, já doente, sua barriga inchada dificultava seu caminhar.
Ô saudades do Zé Pequeno!!! Sei que ainda anda por aí.
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