CRESCEMOS
- Gielton
- 1 de dez. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de set. de 2022
Gielton
Quando minha irmã nasceu eu era o caçula há quase três anos. Sexo antes do parto? Não existia. Ultrassom? Só na teoria. Quando "desapartou-se" fez dos pais reles agraciados. Tanto queriam uma menina! Ela escorregou dos céus.
Pele clara de olhos azuis, como o meu pai, os cacheados do cabelo entoavam-lhe um charme especial. Não eram cachos longos caídos sobre os ombros, mas fios que se enrolavam um no outro deixando a cabeleira amarela cheia de murundus como finas molas que distendiam e contraiam quando puxadas.
Encantadora! Em pouco tempo se tornou o "xodó" do papai. Os privilégios eram muitos, lógico, aos olhos dos irmãos. O colo do pai era seu trono de princesa. Nós, os dois marmanjos plebeus, assistíamos a TV amontoados no sofá, disputando a pontinha do ciúmes.
Eu adorava alguns seriados. Dava altas gargalhadas com "Os três patetas". Me emocionava todas as vezes que "Nacional Kid" salvava a Terra de algum inimigo. Era louco com cavalos e seus galopes nos "faroeste". Mas, o que mais gostava era do Zorro com seu alazão preto que sempre empinava ao final de cada história.
No Natal, ganhei a capa preta, a máscara e a espada do herói dos pobres. Subia muros, pulava tamboretes, arrastava cadeiras em fantasias de lutas com o sargento gordo que nunca me capturava. A irmãzinha admirava minha agilidade e via seu herói salvando os pobres e desfavorecidos. Gentilmente a acolhia. Na maioria das vezes eu, Dom Diego de La Vega, ela Lolita, a eterna apaixonada pelo homem mascarado, fantasiávamos no quintal de casa, embrenhados no milharal. Éramos companhia um para o outro.
Brincar de casinha, só em casa, distante dos olhos alheios. Vergonha. Proibição para meninos. Porém, na intimidade do lar fazia de médico, professor ou motorista de ônibus. Ela era a "patroa". Cuidava de suas bonecas, fazia o almoço e, às vezes, era a enfermeira. Raramente invertíamos os papeis!
Um dia, ao atender a campainha, estranhei o "cara de pau".
— A Ana está?
Tive que me acostumar com os namorados!
Assim, a vida! De repente, a menina tornou-se mulher.
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