O BANHO
- Gielton
- 7 de ago. de 2018
- 1 min de leitura
Gielton
Domingo era o dia do banho. Não sei a quem puxou. Água? Não gostava, nunca gostou. Quando chegou, nada sabia sobre cachorros. Aprendi tudo com ele. Ensinou-me aos poucos, devagar.

As primeiras tentativas, ainda bem novinho, foram com a mangueira. Água gelada, direto da rua. Ficava quietinho. Sempre foi muito obediente, mas acho que odiava. Devia pensar:
- De novo essa água fria!
Nas cachoeiras não entrava de jeito nenhum. Exceto, às vezes em que o obrigávamos, depois de, literalmente, rolar na bosta. Engraçado isso. Nunca entendi esse mistério de cachorro.
Passei a lavá-lo em nossa banheira. Água morninha. Já sabia, bastava apanhar sua toalha azul, velha e mal cheirosa. Ressabiado, se escondia na casinha. Era preciso chamá-lo. Nas primeiras vezes, com certa veemência. Com o acostumar, podia dizer com brandura:
- Vamos, Zé Mulunga? É hora do banho!
Levantava-se. Cabisbaixo ia em direção ao banheiro. Aceitava o colo até a banheira, o shampoo cheiroso e a escovação em todas as partes do corpo. Ao término, todo molhado, sacudia. Corria em voltas no terraço. Sacudia um pouco mais esguichando gotículas de água para todos os lados.
Suspeito que topava tudo isso pois, sem demora, vinha a recompensa esperada: um longo passeio na avenida em domingões de céu aberto e sol, para secar o pelo branco de pequenas pintas marrons, desse vira-lata que penetrou profundamente nossas vidas.
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