UMA TARDE INESQUECÍVEL
- Gielton
- 13 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 25 de jun. de 2024
Gielton

Há pouco havia chegado da escola. Ouvi o toque toque no portão. Deve ser meu pai!
Surpreso, escancarei meu sorriso e pulei no seu pescoço. Largou de qualquer jeito as bagagens no chão e enlaçou seus braços fortes aproximando nossos corações. Recostei, por um instante, minha cabeça em seus ombros.
Fiquei aéreo e agitado. Nem acreditava que meu vô tinha vindo da capital me ver. Não sabia o que fazer.
Vamos brincar de pique esconde? Vamos jogar baralho? Vamos jogar bola? Queria tudo de uma vez só, como se tudo fosse pouco. A espera seria tempo demais.
Contei até dez! Quando abri os olhos, ele estava, no canto do corredor, com o cesto emborcado na cabeça. Fingia esconder-se ali. Talvez tenha esquecido que farei seis anos semana que vem. Ri da sua palhaçada. "Um, dois, três, vô". Corri para o pique e bati a mão. Ganhei!
Sei jogar truco. Aprendi com meu pai, minha mãe e o pessoal do Açude. Grito seis, ladrão! Com meu vô é diferente. Sei que ele sabe que desvio as melhores cartas para mim. Parece que nem liga e fica mais feliz quando eu ganho. Eu, aproveito!
As águas do Rio Cipó são quentinhas e profundas. Entrei de uma vez só. Queria mostrar o quanto sei nadar. Ele me acompanhou de perto. Acho que me protegia, mas precisava não. Fiz esta travessia diversas vezes com meu pai. Conheço as pedras do caminho.
O rio é escuro. Não transparece o fundo. Meu vô insistiu em conferir antes do meu pulo da rocha. Foram três acrobacias. Acho que ficou surpreso, sem acreditar. Toda hora dizia: menino, você vai pular dessa altura? Eu me gabava!
Depois, ele entrou na Cachoeira de Baixo e se deliciou. Eu vi pelo seu semblante. Gritou huhu algumas vezes. Descemos de volta correnteza abaixo. Ele sempre perto de mim. Cansei algumas vezes, mas não transpareci.
Sei que com meu vô posso tudo. Subi na árvore, como faço quando estou com meu pai e minha mãe, para saborear o bolinho de bacalhau da venda do Zeca. Tomei sorvete, suco de açaí com laranja e chupei bala.
À noite, na rede, pedi para cantar a música do menino que queria ir à Lua. Sua voz, bem entoada, e o balançar lento, me levaram de volta ao tempo de bebê. Era como se aquilo estivesse incrustado em mim. Não me lembrava da cena em si, mas sentia uma espécie de calma, um cuidado especial, um amor incondicional. Adormeci suavemente.
Acordei com beijinhos. Espreguicei diante de seus olhos. Me levou na escola como fazia no tempo que morei na sua casa. Queria mostrar a todos meu vô. Queria dizer a todos quanto o amo. Queria continuar com ele e repetir o dia. As pessoas nem ligavam. Perdi a graça. Melhor nos despedirmos.
Ele se foi.
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