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    Gielton

Atualizado: há 22 horas

Gielton



Imagem metafórica -  ondas circulares na água



Às vezes a vida junta pessoas que nunca se encontrariam… e dá nisso.


Estamos no Jalapão. Desta vez, em uma expedição com jovens de diferentes partes do Brasil. Diferentes profissões, diferentes formas de ser e de ver o mundo. Certa apreensão contamina o ambiente. Em uníssono, todos, com pequenos desvios, reverberam por dentro: Quem são? O que fazem? O que pensam?


Estranho viajar com gente estranha. A Hilux é muito confortável, apesar da estrada cheia de costelas fazer tremer até o pensamento. O silêncio que se espalha em seu interior parece prender a si mesmo. Como se soltar alguma palavra fosse abrir alguma seara labiríntica de incertezas.


Pelo menos, a música é boa, a meu ver. Elogiei o condutor - guia e DJ do dia - quebrando o primeiro encanto.


Tateando como cegos as auras alheias, percebendo nuances, sintonias e estranhamentos, fomos rompendo o feitiço entre almoços tímidos, conversas tortas, fervedouros e trilhas, sem perceber.


Ninguém sabia, mas, naquele dia, o inesperado estava por vir.


Distraídos, descemos um descampado por uma trilha que não parecia levar a algo tão surpreendente. Assim, como que, de repente, surge uma cachoeira de águas verdes com um tom levemente escuro. Tão cristalina quanto nossos olhos podem ver. Talvez o verde da vegetação reflita sua energia sobre as águas, deixando-as tão alegres quanto somos capazes de captar. E isso nosso grupo captou. Desceu uma leve cortina de benquerença para nos conectar.


Sem perceber, fomos levados ao tronco estacionado no canto do poço. Era a natureza brincando com a gente. E rimos. Ali, entre a correnteza que nos puxava e a água que dissolvia “faltas de graça”, os papos começaram a brotar: filhos, netos, mães, pais — histórias simples que aproximam o humano do humano. Assim, os sorrisos estampados em todos os rostos eram um sinal de que algo diferente estava acontecendo.


Parece que o bem-querer nos tomou e que não viemos para esse passeio juntos por acaso. Aliás, nada é por acaso. Como se o motivo do nosso encontro fosse revelado pelo rio Formiga. E aí, meu caro, não importa quem são, o que fazem ou o que pensam.


Nos presenteamos com fotos e mais fotos para celebrar essa sintonia mágica. Em sincronia, após a contagem, mergulhamos juntos, enquanto o clique frenético da GoPro condensava as luzes de cada um no filme. Aquele mergulho guardou na memória um instante mágico: éramos, afinal, apenas seres de luz, pontinhos brilhantes vistos do céu.


Assim, a vida! Viemos para transformar uns aos outros.

 

Atualizado: 3 de set.

Gielton




Folhas de plantas ao por do sol


Estive hoje em um velório. Caminhando sobre a grama, antes de alcançar o saguão, o bailado de uma folha me resvala o nariz. Segue sua dança como se tocar o chão fosse uma mera consequência. Este átimo da natureza trouxe consigo uma aura em forma de pensamentos: seria a morte arbitrária? É justa a vida?


Poxa, há tantos casais estranhos, que se esbarram em cada esquina, cujos olhares são como pontas de uma lança atingindo âmagos. Logo ele que, junto a ela, brilhavam em uníssono. Cantavam as mesmas notas em harmonia como o violino e o violoncelo. Partilhavam o fluxo com tanta leveza e profundidade.

A morte é um refletir-se sobre a vida. E se fosse comigo? E se fosse eu quem continuasse ou deixasse minha amada?


Talvez pediria como Noel Rosa.


"Não quero flores

nem coroa com espinhos

só quero choro de flauta

violão e cavaquinho"


Dei alguns passos para fora e aquietei-me em um canto. Encontrei um lugar onde meu corpo sofresse menos peso. Deixei as pálpebras caírem e os cílios, feito uma cortina de rendas, trazerem uma leve penumbra. É necessário tempo para sair de um mundo e entrar em outro. Aos poucos fui me deixando.


Os sentidos aguçados tornaram estrondosos os sons do hall. Um borbulhar de gente papeando. O perfume adocicado das coroas de flores se misturava ao cheiro do café. Um ranger de cadeira cortou o ar. Não havia notado até então os risos de encontros entre velhos amigos.

Mesmo assim, fui indo. Para dentro ou fora de mim? Nem sei…


Quando os ouvidos não mais distinguiam os sons em forma de matéria, escutei algo vindo da curva do pensamento.


“A película do filme da vida é translúcida. A visão não capta sentidos, apenas silhuetas. O essencial se esconde nos interstícios: no que se perde, no que não se pode nomear.”


Assim, a vida. Não se explica: atravessa.

 

Atualizado: 25 de nov.

Gielton

Mão de um idoso recebendo água de uma torneira

Por que tentamos segurar o que escorre?


A vida é frágil, todos sabemos. A morte é a certeza da vida. Deste mundo não levamos nada. No entanto, caminhamos como quem segura água com as mãos, agarrando o que escorre. Apego é tolice antiga que não soltamos. Por quê? O que nos faz tão tolos?


Andei pensando sobre isso. Estou na idade dos pensamentos futuros. Tipo, o que será de mim na virada da página do calendário?

As crianças, peritas do instante, brincam sem medo de perder o tempo. Imersas, lambuzam o queixo apenas para decifrar o sabor vermelho dos morangos. Os jovens, ousados e equilibristas da vida, encaram as paixões como se fossem eternas. E são!

E nós, os já avós, como negociamos com o tempo escasso e, ao mesmo tempo, abundante?


Sabedoria, talvez seja a palavra mágica. Essa não brota do chão mal semeado, nem cai do céu como em dias chuvosos. Muito menos invade os pulmões, como o ar que não pede licença. É uma alvenaria lenta e solitária, tijolo a tijolo. A argamassa que transborda pelas beiradas vem em forma de perdão e aceitação sem julgamentos.


Sabedoria seria o fruto maduro das boas escolhas? Um jeito sereno de estar consigo diante dos outros? Aceitação como chamado para o mais? Ou apenas uma escuta capaz de parar o relógio?


Seja o que for, quero alcançá-la. Deixar fluir a certeza do inesperado. Sentir plena a existência enquanto há tempo. Ser apenas eu em essência. E amar… Com o coração, a voz, as entranhas, o corpo todo. Amar com a alma até transbordar!


Pronto, no dia da partida, fechar a porta com delicadeza, dar um "até logo" baixinho e seguir como quem cumpriu a própria travessia.


Assim, a vida! E só…

 

Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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