FORÇA BRUTA
- Gielton
- 1 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 3 de mai. de 2023
Gielton

O trabalho online foi interrompido por uma gritaria danada lá fora. Largou o computador. Inclinado sobre o beiral da janela espiou.
O rapaz abandonou o carro no meio da rua. Desceu, com aquela valentia toda, e foi em direção a uma mulher na calçada berrando feito louco.
— Eu vi! Você já está com outro... Que merda! Acabo com sua raça.
Ela, apavorada e indefesa, com as mãos em oração suplicava.
— Calma, calma.
Com seus trinta e poucos anos, transtornado como barata tonta, parecia não ter domínio sobre sua própria razão. Era como se um estrondo em volume ensurdecedor tomasse conta de sua audição. Uma luz sobrenatural ofuscasse sua visão. Um beliscão absurdo lhe anestesiasse. Incapaz de ouvir, ver e perceber permanecia atônito.
A coisa tomou outro rumo quando voltou com um taco de baseball escondido no veículo que ainda atravancava o trânsito. Em passos largos e apressados partiu, agora armado, para o ataque de nervos que poderia ser fatal.
Gritos de horror, misturados a pedidos de socorro eram acompanhados de "chamem a polícia". A vizinhança pavorosa sentia o prenúncio de um trágico fim.
Foi quando, no meio do caminho, o valentão levou uma rasteira de dois transeuntes, entre os vários que pararam para assistir tamanha estupidez. Uma intervenção providencial. Sensata. Que alívio! Salva no último badalar do gongo.
Imobilizado e sem reação sentou-se ao meio-fio. A intrepidez deu lugar à humilhação. Apoiou a cabeça entre as pernas e chorou de derramar baldes de imaturidade. Não havia auto-imagem que revelasse tamanho desatino.
Pele branca, de "boa" aparência, cabelo liso de corte curto tradicional, bom tênis, camisa de marca, largou todo o seu constrangimento e mostrou publicamente sua fragilidade emocional. Uma criança no porte de adulto. Um indefeso mental, sem lógica, sem respeito, sem noção.
Como um farrapo humano de sentimentos aflorados e descontrolados repetia entre soluços.
— Vocês não têm ideia do que estou passando... Vocês não tem ideia do que estou passando...
Não temos mesmo, meu caro. Sua dorzinha de macho ferido é ridícula. Seu estardalhaço possessivo um fiasco. Seu destempero um buraco sem fundo. Pena? Não! Que honra é essa que lhe autoriza tamanha atrocidade? Encolha-se à sua insignificância. Vá se tratar!
Os monstros andam à solta. Não são mulas sem cabeça, lobisomens, curupiras, ou boitatás que povoaram nossa imaginação infantil. Têm carne e osso, são reais, estão por perto e são perigosos.
Assim, a vida! Até quando?...
Imagem do post em <https://pin.it/2SkLWx4>
Comments