EU, GAY?
- Gielton
- 27 de out. de 2022
- 3 min de leitura
Gielton
Nasci em uma tradicional família mineira, de muitos tios, tias, primos e agregados. Religiosamente católica. Na média, pouco praticante. Árdua defensora da moral e bons costumes. Muito disso tudo, para fora. Pouca coerência entre o dito e o feito.
Pode ser que encrustadas entre as montanhas, a mente desconfiada do mineiro preserve a moral das aparências. Coisas são feitas às escondidas. Custei a perceber!
Os churrascos nas casas de primos prósperos eram frequentes. Em dias dos pais, das mães, Natais e alguns aniversários celebrávamos bons encontros. Adorava! Era parte.
A lembrança orgulhosa, ainda na infância, era pertencer ao clube “do bolinha” - uma divisão límpida com linha muito bem demarcada. Homens de um lado bebendo, fumando, discutindo futebol, jogando cartas, contando piadas e gargalhando alto sem o menor pudor. Do outro, mulheres servindo...
Isso era ser homem. Assim, aprendi os jeitos e trejeitos, os gostos e padrões, os gestos e jargões... A masculinidade estampava-se na força muscular, no jeito bruto e escrachado de ser, no "sem frescura" - atualizado hoje pelo "deixa de mimimi" - na forma tosca de tratar o mundo, as pessoas, as mulheres. A lógica rasa das questões sociais mais complexas e a ignorância do sentimento faziam parte da nossa inteligência, supostamente superior.
Ser Gay? Nem pensar! Desejar outro homem? Incabível! Senão, estaria fodido! Literalmente. Não sofri preconceitos. Os tive, simplesmente.
Criei teorias. Na adolescência dizia: nada tenho contra os "bichas", desde que não mexam comigo. Os tolero. Por dentro, a vontade mesmo era de acabar com a raça deles. Será que essa repugnância os atraía? Nossa, de quantos olhares desviei. Quanta raiva senti!
Orientação sexual? Só existia uma. A minha, claro: homem que gosta de mulher. O diferente era distúrbio. Fique com seu transtorno longe de mim. Sei lá, dá que eu pego isso...
Nesse modelo construí minha identidade masculina e dela extraí a explicação "científica" para os "afeminados": homens que não deram conta das mulheres. Simples assim. Uma frase de impacto e muitas narrativas! Pense... Sente alguma conexão?
Tive a sorte, talvez intuição, de escolher para cúmplice da minha vida uma feminista. Uma professora de ampla visão social e humanista. A quem a dor do outro é retrato de si mesma. Para acolher basta estar, é parte do ser. Uma mulher livre! Além e presente no seu tempo.
Perder essa oportunidade? Nem pensar! Agarrei o cipó da vida e, pensante, me deixei levar... Fácil? Dolorido derrubar crenças internas alicerçadas em modelos tão bem estruturados. Vergonha ao perceber tanta poeira por trás da cortina. Reagir e assumir? Mais difícil ainda. Podia guardar comigo, mas é momento de me declarar!
Não sou gay! Por raras vezes me senti atraído por outro homem. Prefiro as mulheres! Sinto-me em paz com minha sexualidade. Pelo menos por enquanto.
Apuro cotidianamente o respeito pelo outro no mais alto grau da empatia que alcanço. No âmago dessa consciência cresce, a cada dia, o desejo de desejar o melhor a todos, sem restrições. O amor entre almas transcende orientações. Não há setas, formas, condutas e padrões para amar.
O amor multiplica! Irradia as benesses da alta vibração. Expande consciência e potencializa acolhimento. Amplifica o universo interior e infla o ego da bondade.
Preconceito restringe, limita, estreita...
Há muito detrito em mim a ser depositado nas lixeiras do sentimento. Catar cada grão, por menor que seja, e reduzir o peso da intolerância que se hospeda nas entranhas da consciência, é tarefa diária.
De coração quente e mente transparente digo: estou ao lado dos gays, assumidos ou não, na luta pelo direito, mais que justo, de serem!
Avante!
Assim a vida! Destinos podem selar uma história.
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