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ALMA INVISÍVEL

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 7 de abr. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 18 de ago. de 2022

Gielton





Às vezes é difícil pescar histórias para contar. Mesmo atento ao entorno, elas parecem escapar pelas frestas das distrações. Fogem pelas gretas do pensamento. Quando se vê, já se foram.


Esses dias têm sido assim. Talvez pelo excesso de afazeres. Pode ser pela desconexão comigo mesmo. Quem sabe pela tensão em escrever rápido algo que toque você aí do outro lado da palavra.


Minha metade diz, "não tenho obrigação". A outra responde, "mas eu quero continuar escalando as palavras"... Eita dilema!


Ontem ela veio. Quem? A tal história boa de narrar, boa de contar e que fez trepidar minhas profundezas.


Vem comigo!


Outro dia, entrando na portaria, aqui onde moro (expressão expropriada), deparei com um porteiro desconhecido. Dentro do carro, pela janela aberta, reparei seu semblante. Tentei ser delicado.


— Boa noite. Gosto de tratar as pessoas pelo nome. Não me lembro de ter cruzado ainda com você. É novo por aqui?


Respondeu prontamente.


— Sim, tem menos de um mês que trabalho aqui. Passei muitos anos no material de construção do Jovino.


— Bem vindo, espero que dê tudo certo. Qual o seu nome?


— Avelino! Vai dar sim. Quero me aposentar aqui...


Empolgado, esticou os cantos da boca em um belo sorriso! Percebi sua alegria. Era visível.


— Vai sim! Boa noite.


Avelino... Vou esquecer. Sou ruim para nomes. Fixarei na primeira letra do alfabeto. Vou associar com avelã, que tem o "v". Pronto!


Duas semanas depois...


Estava de saída e me veio à mente o Avelino. Lógico que não lembrava seu nome, mas sua fisionomia era clara como neve... "E se for ele que estiver na portaria?".


Dito e feito, quer dizer, pensado e acontecido. Intuições...


— Boa noite.


Franzi a testa, enruguei as sobrancelhas e disse com aquele ar "desculposo".


— Não me lembro de seu nome completo, mas sei que começa com "a" e tem "v".


Girou a cadeira e disse.


— Avelino! E você é Gil...alguma coisa!


Levantou-se da cadeira e caminhou em minha direção.


— Você foi o primeiro a perguntar meu nome. Não te esquecerei jamais. Aliás, tenho notado que as pessoas aqui não costumam agir dessa forma...


Curvou o corpo, abaixou o tom da sua voz, e sussurrando completou.


— Sinto certo distanciamento! Muitos passam sem ao menos olhar. Apontam o cartão no leitor, esperam a cancela e se vão... É como se eu não existisse.


Levei um tapa! Saí honrado e pensativo... Que mundo é esse de tantas imagens e tão pouca visibilidade.


Assim, a vida! Histórias nasceram para serem contadas. Ou não!


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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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