JANELA
- Gielton
- 18 de ago. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de dez. de 2022
Gielton

Esses dias construí a primeira janela da minha vida. É rústica, de finas toras de eucalipto. Ainda não tem tramelas, mas abre e fecha como qualquer janela. No entanto, essa, em especial, abriu um grande espaço no meu coração.
O parquinho já veio com tablado pronto para o escorrega. Um buraco redondo, por onde passa o tronco da árvore, completa sua estrutura. A escadinha, degrau a degrau, de madeira roliça, facilita o envolver das mãos e transmite segurança. Lá de cima basta sentar, soltar o corpo e deslizar livre até a grama. Brincadeira de criança. Vencendo o medo da altura.
A ideia estalou no pensamento: e se fizéssemos uma casinha de verdade nesse escorrega, com paredes, janelas e telhado? Projeto ousado para diversão dos netos. Adoraríamos.
Entre a idealização e a trama há uma linha do tempo a ser tecida. Água a correr debaixo da ponte. Vento desfolhando galhos. Sol cruzando céus em dias de inverno. Desejo irrigado pela calma no fazer, pelos passos lentos das escolhas.
Meu arquiteto interior buscou inspirações nos arredores. Já sei! As paredes serão de eucalipto como alguns "muros" que vi por aí. O calculista que se esconde nos dedos da trena mediu. Serão necessárias vinte peças para serem dispostas lado a lado em cada vão. O administrador saiu de mim e foi até a madeireira. Amedrontado pelo escorpião no bolso sacou o cartão e passou no débito.
Pronto, agora é só lixar, serrar, colocar as dobradiças nos buracos. Parece fácil nas palavras. A vida real é cheia de entalhes. A janela concebida estava prestes a nascer. Parto sem contrações. Pura diversão!
Trabalhamos juntos. Eu, pai, ele filho. Construímos uma linda parceria.
— Eu seguro e você lixa!
— Deixa que eu coloco a broca.
O neto circulava. Entre fantasias e correrias sobre a grama, chegava até nós.
— Posso ajudar vô?
— Pega a chave de fenda ali!
Assim, passo a passo, ela foi tomando forma. Braço a braço foi se contornando. A cada parafuso, uma nova conquista. O vai e vem do serrote firme nas mãos soava como um rec rec do sucesso.
Era véspera do dias dos pais e ele disse.
— Eu aqui, com meu pai, fazendo a casinha na árvore para meu filho. Quanta honra!
Imagine o que respondi!
— E eu? Esculpindo com meu filho esse brinquedo para meus netos. Quanto vale?
Tudo na vida.
Quando o pequeno deslizou as mãos entreabrindo as madeirinhas firmadas com tanto esmero e sorriu, meu coração estufou de alegria. Era muito mais que uma janelinha na casinha da árvore. Eram infinitas ventanas que se descortinavam no mundo dos afetos.
Assim, a vida!
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