MISTÉRIOS DO LIVRO AZUL 1|14 - MANHÃ
- Gielton
- 19 de out. de 2023
- 1 min de leitura
Atualizado: 29 de nov. de 2023
Gielton

A vida seguia sem grandes desafios. Um dia ali, outro acolá. Como se as realizações se realizassem por si. Tudo meio no automático. Interesses desafetados pelo que já foi conduziam certa monotonia. Havia uma estagnação enquanto o mundo girava.
Bem cedo, antes das seis, já estava de pé. Tinha a mania de preparar o café. Não precisava de medidas. O olho, levemente inchado, encontrava sozinho as quantidades, os volumes, as temperaturas. Tinha seu método próprio, desenvolvido ao longo dos tempos. Aliás, método é o que não lhe faltava. Era uma de suas marcas virginianas.
Normalmente ela vinha em seguida. Ouvia o tilintar dos chinelos arrastando na tábua da sala em passos curtos. O suingue das ancas sempre o atraiu. Era o jeito absorvido de infâncias vividas em outras paragens. Havia um molejo próprio diferente das mulheres de sua família. Uma soltura do corpo de quem já vivera em regiões praianas. Ela lhe fazia bem.
— Bom dia, meu bem!
— Oi. Ele devolvia.
Era costume dela aquecer água com limão — dizem que ajuda o emagrecer. Entre pães e queijos e pães de queijo com queijo — afinal, eram mineiros — as mãos transpassavam sobre a minúscula mesa da cozinha. Os amigos qualificavam como a casa dos quatro queijos. Habituaram— se ao café sem adoçantes. Talvez o doce da vida se esgotara. O amargor preto do cerne da xícara era o elegido.
— Sinto— me cansada. Os sonhos me atormentaram a noite toda.
<Imagem gerada por Inteligência Artificial>
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