A CASCA DE BANANA
- Gielton
- 14 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de mar.
Gielton

O semáforo ficou vermelho. O giro das rodas foi diminuindo gradativamente. Tudo normal, trânsito leve, sem pressões. O horário, escolhido a dedo, era a razão.
De repente, do carro à frente, objetos voam até a calçada. Será que foram lançados pelo passageiro? Não acredito!
Fixei o olhar para me certificar. A idade embaçou minha vista de perto, mas, àquela distância, identifiquei com nitidez. Eram cascas de banana. Pensei alto: que absurdo! Continuei pensando pela língua: será que não tem miolos na cabeça?
Meu primeiro impulso foi largar o carro no meio da rua, sair, caminhar até a calçada e, calmamente, recolher as cascas. Na volta, olhar fixamente para o arremessador, em tom de julgamento. Ou então, atirá-las com força pelo vidro do passageiro. Seria uma lição!
Só que... Meu termômetro da indignação subiu junto ao do medo. Ponderei: e se ele portar alguma arma? Quem faz esse tipo de coisa não é flor que se cheira. Nos dias de hoje...
E se algum transeunte escorregasse? Seria um bom motivo para dar uma bronca daquelas de deixar o outro sem ação. Queria um pretexto para sair da Inércia. Passou um homem de calça jeans. O fone grudado ao ouvido e o balançar do corpo indicavam uma profunda viagem musical. Nem se tocou. Uma senhora grisalha passou raspando nas cascas e continuou seu caminho. Poucas chances de alguém deslizar.
A saliva secou na garganta.
Seu "bunda mole", faz alguma coisa? Vai deixar barato? Diante de seu nariz, tamanha atrocidade ficará impune? A essa altura, já torcia para a lanterna do sinal trocar para a cor verde. Livre-me dessa agonia, por favor. Vou embora disfarçado de "nem te vi".
A fila andou. O veículo da frente, o mesmo do lançamento das cascas, em vez de arrancar, estacionou. Estranho! Será o que estou pensando? Me movi bem devagar e espiei pelo retrovisor. A porta se abriu. Uma mulher desceu do carro, foi até a calçada e recolheu o tal invólucro da fruta.
Segui pensativo…
Assim, a vida! Tanto a aprender em cada instante.
Tenho ressuscitado alguns ditados nos últimos meses e qse como um mantra os repito mentalmente em inúmeras cenas. Um destes ditados foi tatuado no meu braço como se fosse um elixir p me confortar a cada corrida de olhos, "tudo passa". Estamos superando as sequelas do fascismo. Lendo seu texto outros ditados populares vieram a minha lembrança e são pertinentes lembrar aqui: "nem tudo q se vê é" e, "homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas o que conquista esse medo” já dizia Mandela. Vc soube fazer do seu medo uma bela reflexão, coisas de um educador poeta.