AMIZADE?
- Gielton
- 10 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Gielton
Desde a viagem a Ibiá nos tornamos amigos inseparáveis. Ela e eu, eu e ela. O fixo era nosso ponto de partida. Dele combinávamos encontros, horários e lugares. Tudo funcionava bem sem celular. Nem relógio de pulso me permitia. Odiava "babilaques" pelo corpo. Para saber as horas? Pergunte a qualquer transeunte. Ainda fazem pose girando levemente o braço até que os ponteiros mirem os olhos. Uma bobagem!
"Canto Latino" era o barzinho predileto. Música boa, cardápio factível, amigos em todos os cantos e para todos os contos. A taça de vinho a granel era o melhor custo benefício, apesar de não apreciar nem tinto, nem branco. Fazia companhia. Disfarçava. Dali, partíamos a pé. Sem rumo. A destinos incertos. Um trivial caminhar pelas madrugadas ao seu lado era impulso de resplandecência interna. Minha luz se deleitava.
Sábados e domingos eram sagrados. Sempre arrumávamos o que fazer. Senão, um mero sorvete na Praça da Liberdade. Os assuntos corriam soltos como águas de um córrego. Manso, sem turbilhões ou redemoinhos. Reparávamos um no outro. Humores, bons ou maus, se revelavam. Escutávamos corações. Ouvíamos mentes. Era muito mais do que sintonia. Era alma. Não sei como, mas sabia.
O drama do grande amor dessa vida perdurava. Estava ali na minha frente. Convivia de perto. Tinha certeza, mas faltava coragem. O espaço entre nós tinha um limite. Ela o delineava em traços sutis. Falhas no esboço eram corrigidas antes que o tempo permitisse escape. Talvez fugisse de si mesma.
Era um sujeito partido ao meio. A honra de ser seu melhor amigo não escurecia o desejo maior. Queria mais. Queria amá-la como mulher. Queria tê-la em meus braços. Beijá-la sem restrições. Sentir entregas e desejos. Sonhava...
Naquela noite, sozinhos em uma esquina qualquer, depois de ensaiar por dias em frente ao espelho, tomei um gole de coragem e abri o verbo.
- Lelê, tenho uma coisa muito importante para lhe dizer.
Sua feição pouco alterou. Talvez minha ênfase não tenha sido convincente.
- Eu gosto muito de você...
Esperta na leitura do momento interrompeu:
- Eu também te gosto muito. Você é meu melhor amigo!
Desviou o assunto como se dobra uma esquina. Contornou meus dizeres embromando a si mesma. Disfarçou de si o que estava bem diante de seus olhos. Tangenciou como quem balança a cabeça para não sentir.
Perplexo comigo, silenciei. Sem ação, paralisei. De susto, internei. Nessa noite, chorei.
Assim, a vida! Há tempo certo para choros e risadas.
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