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CANDOMBE

  • Foto do escritor: Gielton
    Gielton
  • 14 de set. de 2022
  • 2 min de leitura

Gielton




A Lua arredondada espiava lá de cima. Bem de perto uma estrela brilhante acompanhava seu movimento. Qual seria?


Cá de baixo sua branquitude nítida desvendava mistérios de uma grande celebração. Que combinação!


A reza conduzida por mulheres de força espiritual transcendente reverenciava, no sincretismo, a santa: Nossa Senhora do Rosário.


A pequena procissão em círculo passou para beijá-la e, assim, receber a graça em vida e morte aclamada por vozes de potência sobre-humana!


Enquanto isso, a fogueira ardia. Toras de madeira inflamadas cintilavam clareando o entorno e aquecendo os coros dos Tambus dispostos ao redor da quentura.


A bandeira em mastro era elevada por "músculos másculos" ao som afinado de cantigas: "Tá caindo fulô". Quanta simbologia, quanta crença, quanta aproximação com outas dimensões.


No céu, a tal Lua dava seu tom de alegria que, oposta à fogueira trazia cores de tom avermelhado à linda bandeira, agora de pé. Os vivas aclamavam a santa adorada.


Ao som dos Tambus, tocados por mãos carinhosamente firmes, a multidão de turistas, como eu, sente a vibração e força dos ritmos. Esses, sim, ondulam o terreiro, especialmente cuidado nessa data, e transmitem aos corações ali presentes toda a sua bondade.


Evocados os cantos que expressam a beleza e dureza de um cotidiano vivido pelo povo local, nos fazem refletir sobre a herança dessa tradição vinda de remotos tempos de muito sofrimento do povo negro.


De portas, janelas e corações, a "Casa Aberta" acolhe com caldos, chás e quitutes, preparados a inúmeras mãos com o esmero que só elas conhecem. Os turistas adentram a cozinha e servem-se desse alimento para além do corpo. Energia que se transmite nos olhares e sorrisos de quem deu seu melhor para aquele momento.


A madrugada já avançava pela noite quando nos despedimos de Nossa Senhora do Rosário. Estupefatos com tamanha recepção e generosidade dessa gente que carrega na alma coletiva a força ancestral, nos retiramos em silêncio.


A Lua, ainda soberana, clareou nossa rota pela estrada de terra batida ao som distante das batidas dos Tambus que prometiam festa até o amanhecer.


Até a próxima!


Assim, a vida! Obrigado Nossa Senhora do Rosário!


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Textos - Gielton e Lorene / Projeto gráfico - Dânia Lima

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