DE REPENTE...
- Gielton
- 10 de nov. de 2022
- 2 min de leitura
Gielton
Passava em frente ao sacolão, na avenida perto de casa, quando algo me acometeu. Uma espécie de tristeza descabida. Uma sensação de vazio. Uma falta inesperada.
Havia cruzado a pouco com ela desapercebidamente, como a muitos transeuntes de forma corriqueira. Sabe quando, em meio à multidão, à beira do trilho do metrô, entre o roçar de ombros no espremer da porta, alguém, do nada, te nota? Sem saber o porquê, sente um olhar não identificado?
Foi assim! Só entendi que era ela, aquele dia no sacolão, tempos depois. Na calçada, entre a loja de pets e o ponto de ônibus, estonteei repentinamente. Perdi a lógica. Desbaratei! Era eu, aéreo como o ar que pulula em redemoinhos num vai e vem frenético. Não sabia se ia ou continuava. Se voltava ou permanecia.
Quando retomei fração da lucidez, meus olhos marejados embaçavam a iris. Não entendi aquele choro. Segurei, afinal estava no meio da avenida. Imagens vagas pipocaram na minha mente em flashes como um filme sem nexo. Impossível reproduzir. Na verdade, nem me lembro. Como traduzir? No máximo, a sensação de desvario. Essa desconexão entre o presente e o que talvez já tenha ido. A dor do desconhecido.
Cargas desceram sobre mim. No chão, os pés fincaram em uma espécie de fio terra, espalhando para longe aquele estado de temor e delírio. O sangue desgovernado reencontrou sua rota em artérias e veias ramificadas. No cérebro, as sinapses, até então descontroladas, se organizaram na confusão peculiar. O pulmão aflito espremeu-se no tórax e logo relaxou deixando o ar invadi-lo sem restrições.
Uma melancolia confortante, sem razões aparentes, envolveu minha áurea. Fui abraçado por uma serenidade em tons de calma. "A paz invadiu o meu coração" (Gil).
Era sobre o transcendente. O além erigindo o presente. Dizem que temos cinco sentidos. Acho pouco pelos arrepios do corpo.
Interpretei. A saudade passou tão perto e tão rápida que nem reparei. Seu rastro atordoou o entorno de mim, mas o perfume que exalou trouxe-me de volta. Meu corpo e minha alma leram a falta que sentia dela: minha mãe, que partira a menos de um mês.
Assim, a vida. Do nada, acontece!
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