FELICIDADE
- Gielton
- 23 de nov. de 2022
- 2 min de leitura
Gielton
Estava com meus vinte e poucos anos quando nossa primogênita chorou pela primeira vez. Jovem demais para os dias de hoje, mas, para a época, nem tanto.
A vida atribulada, a labuta pela sobrevivência, o "provedor" introjetado e as frágeis ferramentas psicológicas não me permitiam vislumbrar um futuro tão próximo. Questão de pouco menos de quarenta anos. O tempo voa!
Meu pai não teve a chance de conviver com nenhum dos oito netos. Minha mãe experimentou dois bisnetos. Não dá para saber muito além disso. O que habita a alma de cada um é algo muito particular. No máximo, posso dizer de mim.
Nesse último fim semana nos reunimos em Casa Branca. Um encontro inesperado com os três filhos, noras, genros e netos. Uma grande família!
Dizem que a felicidade é feita de pequenos momentos. Digo, então, sou feliz! Por horas e horas a fio... Ela se manifesta nos detalhes, no amor que derrama, no abraço de aperto imensurável, na palavra de conforto.
Nadar com os dois netos na piscininha do clube. Rolar na água, pular, mergulhar a “pequetita” - como sua bisavó a chamava - imaginar navios, peixes, submarinos e o que mais vier na mente criativa do mais velho é jeito de avizinhar a tal felicidade. Na espreguiçadeira, conectar meu pai e oferecer-lhe esse momento. Agradecer por vivê-lo.
À mesa farta do café saborear cada migalha de pão como palavra trocada. O pedaço de queijo vem com o beijo de quem acaba de chegar. Aquela lasca de bolo de fubá tem o gosto do afeto que rodeia a mesa. Tantas delícias entre gentes, tantos prazeres, tantos amores. Lembrar de minha mãe que participava até pouco tempo.
Em meio à confusão a mão sobre a coxa da mulher amada gera conexão. Sentimos a filharada como fruto maduro daquilo que cultivamos juntos. A felicidade vem agora em forma de orgulho dessa construção tijolo a tijolo.
O clima é leve! Cada um pode ser, simples, o que quiser. O indivíduo compõe o todo, deixando-se ser parte de algo que parece maior do que nós mesmos. Talvez venha de outros tempos, de outras formas de espaço, de outras formas de estar.
Malas prontas apontam para um fim. Ao encontro segue a despedida. É hora de seguir adiante. Só que, o pranto doído do neto comove. Das profundezas, os soluços dizem sobre o desejo de perpetuar. Agarrar a tal felicidade e não soltar nunca mais... Seria medo de soltar os laços?
Na rápida estiagem, mesmo entre nuvens cor de cinza, a ternura do grande abraço familiar trouxe alento. Foi tão espontâneo, tão meigo! Leve como plainar em sonho! Um instante de poucos segundos, mas de querenças eternas.
O choro se foi...
— O que houve?
— Nada vô. Fiquei feliz!
Assim, a vida!
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