LUZ NOS OLHOS
- Gielton
- 28 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Gielton

Posso abrir meu coração?
Tenho um amigo que usa essa expressão quando deseja se confessar. Depois, solta o verbo a falar de si.
Gosto de aprender com os outros. A tal pergunta afirmativa me cai bem. Tenho muito a revelar. Tantas coisas, que nem sei por onde irromper.
Filhos são espelhos para nos mirar. Tenho na memória que desde muito pequenos refletiam em mim suas angústias, alegrias e dificuldades em lidar com os sentimentos. Pirraçavam para dizer aquilo que ainda não eram capazes. "Euzinho", puro!
Depois de uma manhã intensa, com novidades atrás de novidades, experiências preenchidas e amores vividos, o cansaço bate à porta. Como a gente, as crianças não querem interromper a brincadeira, o gozo, o prazer. É como se perpetuar trouxesse o futuro para o agora, ou atrasasse o passado.
Nós, adultos, disfarçamos. Criamos subterfúgios. Inventamos desculpas esfarrapadas. Elas, crianças em plena intensidade, explicitam. Esfregam os olhos. Coçam os ouvidos... O bocejo inevitável expressa naturalmente o que virá: hora de dormir.
"Não quero"... falam pelo olhar. A resistência é nítida. "Quero continuar a brincadeira, mesmo que meu corpo peça paz". Se passa da hora, relaxar e acalmar a ansiedade para descansar, torna-se tormento. A briga interna é límpida. "Não aguento mais, mas não dou o braço a torcer". Exatamente como nós. Quem debaixo das cobertas já não sentiu o borbulhar mental como um escudo para o sono?
Vi meus filhos bem pequenos nesses dilemas. O ritmo da dormida do final da manhã exigia intervenção para um transcorrer do dia mais fluido.
Primeiro tentava com canções calmas, típicas de ninar. Falava baixo em tom sereno e trazia a energia da paz para o quarto. O colo oferecido, algumas vezes no mais alto grau da entrega, era insuficiente. Via a agitação interna digladiando com a exaustão.
Sabem o que eu fazia algumas vezes nessas horas? Posso abrir meu coração?
Deitava a criança no colo de olhos para cima impondo um pouco de força. Pressionava contra o peito e saía para o quintal. A claridade azul do céu tornava-se insuportável. Os olhos cerravam-se instintivamente. "Uma bonequinha preta" era a canção que invadia os ouvidos, acompanhada de um balançar sutil e suave. Ia nessa toada. Rapidamente o sono vencia.
Adormeciam como anjos!
Assim, a vida! Linhas tênues separam a luz do escuro.
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