MARRAKESCH
- Gielton
- 3 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Gielton

Você já foi a Marrakesch? Caetano, seu danado, me confundiu todo! Achei que só havia "prá lá de Marrakesch".
Não é que existe de verdade e estivemos lá!? Fica no Marrocos, um país norte africano banhado pelo Mediterrâneo, bem em frente a Espanha. Uma aventura que nem te conto.
Descemos da grande balsa em Tânger e logo fomos cooptados por um daqueles guias que intencionam intencionalmente nos extorquir. Extorquiu, mas nos conduziu...
Tudo muito novo, muito diferente. A começar pelo idioma. Falam árabe, na sua grande maioria, mas também se comunicam em francês. Os dois "bocoiós" das Minas Gerais enrolam suas línguas em um simples "merci" ou "shkran".
E para encontrar a tal pousada indicada pelo sujeito que conhecemos no trem? Apresentamos o cartãozinho a um grupo de homens à beira de um café na grande praça. Pareciam à toa! Entreolharam-se com ar de mistério. Disseram algo em árabe ininteligível, como se confabulassem uma tramoia e indicaram uma criança para nos guiar.
O medo deixou a mochila ainda mais pesada. Pensamentos ruins orbitaram, ainda mais quando nos embrenhamos em becos e mais becos labirínticos cruzando motos, bicicletas e carrinhos de mão. Entra aqui, sai ali, volta por cá... Perdidos, nos encontramos quando a portinhola se abriu e fomos recebidos pelo rapaz do trem, dono da pousada. Alívio...
Acomodados. Hora de explorar um pouco o entorno. A Praça Jemaa El-Fna, a principal e maior da cidade, estava ali, entre uma ruela e outra, bem pertinho da gente. Fácil de se perder no meio de lojinhas e mais lojinhas, todas marrom terra claro, a cor predominante das construções. Xales coloridos escorrem pelas portas, vitrines com tagines amontoados puxam a atenção, prataria de todos os preços imploram pela compra.
Caminhei marcando território visualmente. Fotografei mentalmente cada esquina e gravei o mapa dentro da minha bússola. Enquanto isso, minha companheira seguia leve, solta e deslumbrada.
Interpelei-a no entre passos:
— Vamos apenas explorar, conhecer e fazer o primeiro contato. Mineiramente como manda o figurino. Tudo bem?
Balançou afirmativamente a cabeça. Seguimos.
A praça é um deslumbre. Enorme. O calçadão ao ar livre, plano e circular, convida a vaguear lentamente entre os inúmeros ambulantes. Nos oferecem desde água a relógios, tatuagens a haxixe, tapetes a calçados, chás e comidas típicas. Tudo junto e misturado em um tipo de organização estranha aos nossos hábitos.
De repente, uma cobra começa a levantar do cesto. Mal a cabecinha emergiu, a máquina (na época as câmeras ainda não estavam nos celulares) já estava nas mãos dela. E clica daqui. Busca um novo ângulo, dá um zoom, pois chegar perto? Nem pensar...
Assistia a cena meio de menesguei quando o encantador me puxa para o centro e enrola a cobra em meu pescoço. Tudo muito rápido. Virei uma "múmia paralítica" no sentido mais literal do termo. Só não desfaleci em praça pública por que o pânico me conteve. Enquanto isso, não sei como, ouvia os cliques em um disparo frenético. Permaneci atônito enquanto o mundo girava em volta da serpente grande e grossa.
Passado o susto veio a cobrança.
— Cinquenta euros? Nem pensar.
Ela dizia invocada como se estivesse no Rio de Janeiro. Dona de si e do "pedaço", em portunhol, e apontando para a câmera continuou.
— Eu apago todas as fotos agora.
Em árabe ele retrucava.
يمكننا تقديم خصم. كم يدفعون؟ —
Não conseguia entender os xingamentos de ambos os lados. A valentia e coragem dela me deixaram perplexo. Pensei: vamos ser presos.
Entendemos depois que são negociantes por natureza. Pechinchar faz parte. Deixamos 5 euros pelas fotos!
— Tá vendo! Não falei que era só para explorarmos discretamente?
Pensou: han, han..
Assim, a vida. Repentinamente nos surpreende.
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